Amalia é o primeiro romance argentino.
Foi escrito em 185l, na cidade de Montevidéu, onde seu autor, José Mármol, se
refugiara da ditadura de Juan Manuel Rosas.
Amalia
Saenz de Olabarrieta, jovem viúva de vinte e dois anos, leva uma vida solitária
em sua casa ajardinada nos arredores da cidade. De Tucumán onde nascera, como nasce uma açucena ou uma rosa
transbordando beleza, louçania e fragrância”, fora para Buenos Aires,
querendo deixar para trás lembranças tristes. No romance que leva seu nome, tem
a função de viver um grande amor com Eduardo Belgrano, opositor do homem que
estava a governar, com tirania, o país. Ferido pela polícia de Rosas, que lhe
intercepta os passos na tentativa de fuga para a outra margem do Prata, é
levado para se esconder na casa de Amalia. A convivência os envolve num
sentimento muito forte cujo grande obstáculo é a situação de perseguido
político em que se encontra Eduardo Belgrano, o que irá definir os seus
destinos. Mesclam-se, ambos, às figuras que pertencem à vida real – Juan Manuel
Rosas, sua cunhada María Josefa Escurra, Manuela, filha do tirano, Bernardo Victorica,
o chefe de Polícia – para se constituírem personagens que se inserem, à
perfeição, nos cânones românticos.
Amalia
é descrita com cuidado, assim como o cenário em que se move que prima pelo bom
gosto e fineza que só os privilegiados pela fortuna e pelo berço podem possuir.
Ela é belíssima e belo tudo o que a rodeia. No primeiro capítulo da segunda
parte do romance, José Mármol a apresenta no esplendor de um descuidado momento
de devaneio. Enaltecida, mais que uma mulher, parece uma deusa de beleza
inquietante, habitada por harmonias de alma que fazem dela uma dessas criaturas
que reúnem em si aquela dupla herança do
céu e da terra que consiste nas perfeições físicas e na poesia ou abundância de
espírito na alma.
Depois,
seus atos lhe completarão o retrato: será altiva no trato com os colaboradores
do tirano sob cuja égide vivem todos, permitindo-se demonstrar suas convicções
políticas; será a mulher enamorada que enfrentará o medo para se unir ao homem
amado e, a vaidosa, que escolherá vestidos para agradá-lo. Será profundamente
religiosa ao se inclinar para pedir nas suas orações e cheia de coragem diante
do perigo quando julga possível , com o seu corpo, proteger Eduardo Belgrano
dos punhais assassinos.
Verdadeiro
ser de eleição, boa, rica e generosa,
no romance de José Mármol, além de sua história amorosa, pretexto para falar da
ditadura de Juan Manuel Rosas, Amalia (como também Eduardo Belgrano, Daniel
Bello, Florencia Dupasquier) representa a fidalguia dos bem nascidos que se
opõem aqueles que, de origem humilde, alcançam posições de destaque na
sociedade da época.
Assim,
no seu quarto, primam os objetos de cristal e de ouro, os cetins, os veludos,
muitos vindos da França e da Itália. No baile em que deve ir para afastar
suspeitas, se mostra com sóbria elegância, enquanto as outras, as mulheres
partidárias do tirano, se apresentam sob o signo de um gosto vulgar como a que
usa um vestido vermelho onde os enfeites são amarelos e negros. Então, quando
Amalia se veste com roupas vindas da França ou quando lê os românticos
franceses e vive isolada dessa sociedade emergente que ela rejeita, seu papel,
no romance, é mais amplo do que aquele atribuído a uma estereotipada personagem
ficcional da época. É Amalia uma peça preciosa da dicotomia evidente que, no
relato, separa os federais (partidários de Rosas) dos unitários (seus
opositores): a civilização, todo um modo de pensar, ser e agir, segundo os
moldes europeus e a considerada barbárie, expressão autêntica e espontânea dos
que desses modelos ficaram alheios.
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