domingo, 14 de março de 1999

Amalia, romance histórico. Retrato de Juan Manuel Rosas

                                                                       Amalia é o primeiro romance argentino.
                                                           Foi escrito em 185l, na cidade de Montevidéu onde
                                                           José Mármol, seu autor, se refugiara da ditadura de
                                                           Juan Manuel Rosas. 

          Foi dito que jamais se escrevera sobre pessoa alguma versos tão ferozes quanto os de José Mármol contra Juan Manuel Rosas. Por isso, o chamaram de verdugo poético do tirano. E seu verdugo continuou sendo ao escrever Amalia, romance em que pretende documentar a época dramática de uma ditadura que lhe fez sofrer a prisão e o exílio.

          A primeira versão do romance foi publicada um pouco antes da batalha de Monte Caseros, perdida por Juan Manuel Rosas, derrota que o fez exilar-se na Inglaterra. Pode, então, José Mármol retornar à pátria e, consultando os arquivos da polícia rosista, anexar a seu romance textos de atas de reunião, de notícias de jornal que descrevem práticas da ditadura e tornam mais convincente o conteúdo ficcional de Amalia onde se inscrevem minuciosas descrições de cenas do cotidiano e personagens não ficcionais. Primordial, na sua função narrativa é a figura de María Josefa Escurra, cunhada do tirano. Imprescindível para a compreensão dos fatos históricos, a de Juan Manuel Rosas. Seu opositor e sua vítima, José Mármol  constrói-lhe o perfil como um romancista que, além de relatar suas ações, lhes conhece os motivos. Diz que Juan Manuel Rosas deixava sempre na dúvida seus subalternos, porque se eles se sentissem com medo fugiriam dele e se adquirissem confiança se tornariam cheios de si. Também, que não se emociona com triunfos ou com reveses mas que é determinado nos seus métodos de domínio: um trabalho inaudito, empregado com perseverança durante muitos anos para destruir todos os vínculos sociais, pondo na anarquia as classes, as famílias e os indivíduos [...].  Para exercer o poder, Juan Manuel Rosas institui a delação como virtude cívica e a sua constante prática acaba por enfraquecer a força do povo ao lhe cortar os laços de comunidade e criar uma sociedade de indivíduos isolados. A tais afirmações do romancista se acrescentam aquelas que descrevem o tirano como um filho insolente aos quinze anos, um filho fugitivo aos dezesseis, mais tarde um gaúcho ingrato para com seus benfeitores e depois um bandido rebelde às autoridades de seu país. Ou que o mostram no seu acampamento, inquieto na noite, mudando de lugar e de escolta para que todos ignorassem onde estava. Sempre, ao longo de toda a narrativa, seu nome ligado ao epíteto de tirano, de bandido, de selvagem.

          Homem de ideais, o escritor vê nele um usurpador de liberdades, o instaurador da barbárie e, no seu romance, em que a divisão das forças do bem e do mal é maniqueísta, Juan Manuel Rosas é o maléfico ser que se opõe à superioridade de uma elite informada e culta, voltada para a Europa e para os seus valores. José Mármol, poeta ou romancista, não o perdoa.

 

 

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