Amalia é o primeiro romance
argentino. Foi escrito em 185l, na cidade de Montevidéu, onde José Mármol, seu
autor, se refugiara da ditadura de Juan Manuel Rosas.
O
primeiro capítulo de Amalia, narra a
tentativa de fuga de seis unitários
(opositores de Rosas) na noite de 4 de maio de 1840. Caminhavam em
direção ao lugar onde tomariam a barca para Montevidéu quando, traídos pelo
guia, são atacados pelos homens de Rosas. Assim, eles tratavam de impedi-los de
abandonar Buenos Aires para se reunir ao exército de Lavalle que lutava contra
o tirano.
O
itinerário dos fugitivos é detalhadamente mencionado: rua Belgrano, Balcarce,
Venezuela, San Lorenzo e Reconquista onde se passa o confronto em que cinco
deles irão morrer. Aquele que se salva alcança as barrancas do rio e recebe
ajuda de um amigo que o irá conduzir pelas ruas Reconquista, Brasil, Patagones,
Marcó a um lugar seguro.
Buenos
Aires se delineia, então, ao longo da narrativa, pelos seus topônimos e por
breves descrições que a farão uma presença inconfundível no romance. José
Mármol fala de suas torres e capitéis, das margens banhadas pelo Prata, de suas
ruas espaçosas e retas, do quadrado de seus edifícios. Mas, sobretudo, da
atmosfera reinante onde predomina o medo, levando ao reinado do silêncio. Mal
se apagava o último crepúsculo da tarde e a cidade ficava deserta. As ruas
guardadas pela polícia de Rosas, os cafés e confeitarias, as praças e as portas
dos templos, invadidos por homens de aspecto tremebundo e sangrento, sempre com o punhal à mostra na cintura.
Cada família encerrava o pai e os filhos em casa e a simples ação de passear
pelas ruas, nessa época, se constituía, já, um confessar de adesão política que
muitos queriam evitar. Em todos os lugares, diz o romancista, os tiranos
perseguem um partido, uma crença, uma idéia mas em Buenos Aires todos viviam
sob a égide da suspeita. E, a cidade que os poetas tinham chamado de a
Imperatriz do Prata, a Atenas americana, a Roma do Novo Mundo, sob o domínio de
Rosas, se achava desamparada do olhar de Deus e se despovoava de seus filhos.
Ou, procurados pela polícia de Rosas, eles se escondiam ou tendo coragem e
dinheiro, emigravam, ficando apenas, no dizer de um personagem, as mulheres e os tigres.
No
dizer de Jean Franco (Historia de la
literatura hispanoamericana), Buenos Aires aparece, nesse romance de José
Marmol, como uma cidade verdadeiramente tenebrosa. Cenário perfeito para os
crimes que aí se cometiam.


