No
romance de Maria Esther de Miguel, El
general, el pintor y la dama, publicado em Buenos Aires em 1997 pela
editora Planeta, que o premiou em 1996, ele é o narrador de batalhas. Quer
vê-las imortalizadas numa tela e chama o jovem pintor uruguaio Juan Manuel
Blanes para fixar suas glórias. Instalado na sua fazenda, o Palácio San José em
Concepción del Uruguai, o pintor escuta o que ele conta e, uma após outra, as
batalhas travadas passam a existir nas cores do pintor.
Entre
vermelho, sépia, branco e azul, a bravia batalha de Pago Largo no dia 31 de
março de 1839. Lá está ele, o general, montado num cavalo branco, vestido com
um poncho branco a enunciar ordens de ataque. Olha para a planície onde sua
cavalaria arremete com bravura contra os inimigos já em fuga.
Escura,
já no anoitecer, a batalha de San Cristobal. O campo submergindo-se em sombras
no horizonte e, em primeiro plano, iluminado no esplendor do sol em despedida,
o general no seu cavalo branco a frente de seus soldados vestidos de vermelho, como a proa de um barco que avança pelo seu caminho de água, o olhar para a frente.
Cruzando
o rio estreito, os soldados de vermelho tem diante de si a planície e o
exército inimigo. Diante deles, o general Urquiza que desta vez não estava junto,
mas que assim foi pintado por Juan Manuel Blanes porque “há ocasiões em que a Arte inventa seus assuntos”. É a batalha de
Sauce Grande.
Também,
chapinhando na beira do rio, essa legião de soldados de vermelho que avança
pelos campos ondulados na batalha de Índia Muerta que deixou as águas vermelhas
de sangue até que um dos lados decidiu retroceder. Não o do General Urquiza
que, ainda desta vez, afirmou sua força, exorcizando temores. Mal termina de
pintá-la, Juan Manuel Blanes pensa na batalha seguinte, a de Laguna Limpia que,
no entardecer, é narrada pelo General. De sua voz fluem as lembranças: a
planície, o rio, os homens cruzando as águas e a cruel batalha, a cruel
perseguição entre banhados e cerros.
E,
princípio do fim de Rosas, a batalha de Potrero Vences. Sob as ordens do
General, montado num cavalo branco, avança a cavalaria num campo que tem a
tonalidade do céu e da água. A paisagem parece serena, quase lunar, numa
quietude apenas quebrada pela fumaça das armas.
Por
último, Monte Caceros. O exército perto do rio, na claridade do dia, o General
agora no seu cavalo escuro, ajaezado de prata e o tom cinzento do céu.
Nos
quadros são as cores – verdes, azuis, vermelhos –, as sombras e as manchas de
luz. Um momento da História Argentina que se fixa em testemunhos. Nas
lembranças do General, também os sofrimentos: gritos dos feridos, lamentos dos
que agonizam, mortos espalhados pelas planícies. E ele pensa: tudo o que desaparece deixa rastro de sua
presença, mas as sobras das batalhas
são terríveis.
Para
eludir o horror, o horror do alarido das tropas, das queixas dos moribundos que
talvez persigam seus dias, ele pede ao pintor: Pinte limpo para não agredir as pessoas. Que seja arte, pintor, não carnificina.
E
o pintor a ele se atém. Seus quadros primam em traços, em cores, em ausências.
E é assim que tornam a contar a história.

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