O autor diz ter começado o
romance em 1970: Caballo por el fondo de
los ojos, publicado em 1976 pela Editora Planeta de Barcelona.
Como epígrafe, uma frase de
Leopoldo Marechal a pátria é uma dor que nossos
olhos não aprendem a chorar e uma estrofe de Rafael Guillén da qual os
versos Passa como que um tropel de mansos
cavalos pelo fundo de nossos olhos
foram a origem do título desse romance de Gerardo Mario Goloboff. Sua
publicação seguiu-se a de um livro de poemas, Entre la diáspora y octubre e precedeu a de um outro romance, Criador de palomas.
Caballo por el fondo de los ojos (Cavalos no fundo dos olhos) termina com a transcrição
de um texto de Macedonio Fernández, tirado de Museo de la novela la eterna, obra ficcional que discute preceitos
teóricos do romance e ensaia novos modelos romanescos.
Nesses dois marcos se
enquadra o romance de Gerardo Mario Goloboff: um compromisso com a realidade
argentina da década de 70 e uma experiência ficcional.
Descendente de emigrantes
europeus,ele nasceu em Carlos Casares, província de Buenos Aires em 1939. Um
texto de seu livro sintetiza esse drama de que fala Vicente Huidobro, o que se estabelece
entre a coisa e a palavra, dito que
aparece, em epígrafe, antecedendo o primeiro capítulo, “Semillas” (Sementes).
Nele se delineia a viagem dos que vem de longe para chegar à Argentina, lugar
de terras boas e de paz. E, onde há que aprender a nova fala: ser outra vez criança, deixar que doam esses músculos da garganta
que, por não terem nunca sido articulados, se opõem torpemente e deixam ouvir
cacos de sons, consoantes arrastadas, sílabas desparelhas.
E há uma busca de palavras
nessa busca de encontrar outra pátria agora a ser construída no pampa: do nada,
irão surgir a casa e as plantações de girassóis.
E com o novo universo que se
ergue, a coragem da expressão com seus sons e seus silêncios. Conquistas de
palavras que se mesclam com as descobertas do dia a dia: um gosto novo na boca,
uma nova música para escutar. E o trabalho cotidiano, as dúvidas do difícil
transplante, a pátria recente a ser plenamente vivida. E esse querer possuir o
idioma para poder começar a acreditar de
novo.
Então, há o desejo de
deslindar a Babel no afã de que a palavra pão
seja para todos, acalme a mesma fome, a
mesma sede, o mesmo cansaço, o mesmo sonho, no mesmo pampa.
Um ideal que irá permanecer
para conduzir ações futuras. Nos capítulos seguintes se entrelaçam a vida dos
descendentes, seus destinos truncados pelas lutas políticas. Os alijados da
Europa atravessaram os mares procurando a paz. Ao se incorporarem, porém, à
nova terra se incorporaram, igualmente, as suas agruras nesse mapa de violências
e mortes que era a Argentina dessa época.
Caballo por el fondo de los ojos é um romance estranho, difícil, de múltiplas leituras.
Num país em que o político e
o histórico e o literário se entrelaçam num mesmo tecer-se, como disse Gerardo
Mario Goloboff em entrevista a Oscar Taffetani, essas leituras possíveis não
estão isentas da presença da história e da política e ambas não podem
prescindir dessa gente que veio para construir o país e para construir-se.
E o romance é então, também,
um meditar sobre essa chegada e esse anseio que passa pela conquista da
palavra.
Nenhum comentário:
Postar um comentário