Pablo
Neruda, “o cronista de todas as coisas” é como ele se rotula no poema “Artigas”,
oitavo episódio de seu livro La
Barcarola, publicado pela Losada de Buenos Aires, em 1967.Oito estrofes
compõem o poema; todas, feitas de números desiguais de longos versos. Neles,
cabem o herói e seu país. O herói é Artigas, o prócer da Independência do
Uruguai. O poeta o chama de pai constante
do itinerário, caudilho do rumo, centauro da poeirada, ginete do calafrio,
soldado do campo crescente, capitão luminoso. O país é definido por
uma estrofe inteira: Uruguai é palavra de
pássaro ou idioma da água, / é sílaba de uma cascata, é tormento de cristais, /
Uruguai é a voz das frutas na primavera fragrante / é um beijo fluvial dos
bosques e a máscara azul do Atlântico. / Uruguai é a roupa estendida no ouro de
um dia de vento, / é o pão na mesa da América, a pureza do pão na mesa.Com
nomes de pássaros, o poeta os entrelaça e faz surgir a ação desse galopar de cascos sonoros até aparecer a bandeira e
o grito azul espalhado no vento e a
luta perdida e o exílio.
É a
crônica de um destino e de uma guerra, alimentada de metáforas, refletindo as
grandezas da epopéia que se desenrolou nos campos do Continente e a sua vitoriosa derrota.
Emergem
palavras – planície, inclemência, pátria, sangue, aurora, silêncio, folhas,
chuva, passos, látego, cepo, déspota, dores, - dando conta de um espaço. Outras
palavras emergem, dizendo de sentimentos: tempestuoso, amargo, violenta,
entristecido, desventura.
Então aparece, na última estrofe, o nome do poeta,
declarando a sua dívida para com o Uruguai. E a estrofe lhe pertence para dizer
que não faltou a seu dever, não aceitou escrúpulos, esperou a hora, recolheu a
inspiração nas plantas do rio, na sua areia, nos seus peixes, na amizade dos
uruguaios para escrever essas palavras em memória de Artigas.
São versos que nascem do culto por quem foi um verdadeiro filho do Continente nessa trajetetória de coragem pelos campos de seu país e da solidão sofrida nos país dos outros. Conduzidos pela emoção se inserem, como aqueles dedicados a César Vallejo, Rúben Azócar, Joaquin Murieta, em La Barcarola esse poema, sempre interrompido, que
prossegue cantando o amor por Matilde, o amor pela sua pátria.
Amores que não o fazem, no entanto, esquecer esse
História da América que ele vai entremeando, ao longo do tempo, em poemas que
não deixam que o destino de seus povos sejam condenados a um absoluto silêncio.
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