naci a la
vida, a la tierra, a la poesia y a la lluvia.
As primeiras palavras de Confieso que he vivido dizem da intermitência
e do olvido dessas Memória que Pablo Neruda escreve na sua pulcritude de detalhes, como um memorialista, e nas lembranças
diluídas de seu viver de poeta, na lírica evocação das sensações que o universo
dos bosques chilenos lhe provocavam.
Quem não conhece o bosque chileno, não conhece este planeta. Daquelas
terras, daquele barro, daquele silêncio eu saí a caminhar, a cantar pelo mundo,
assim termina esse texto que, verdadeira poesia em prosa, antecede o relato
memorialista. Adjetivos, comparações e metáforas, antropomorfizações e cores,
cheiros e sons refazendo o caminho a desvendar tesouros que, assim evocado,
aparece com a beleza feérica, nascida das vivências infantis cujos relatos formarão
o capítulo “Infância e poesia” de Confieso
que he vivido.
Nele, os primeiros anos vividos
em Temuco, povoado do extremo sul do Chile. O pai, ferroviário, por vezes o
levava com ele para Boroa onde o trem ia buscar as pedras para colocar entre os
dormentes. A natureza ali me dava uma
espécie de embriaguez, atraído que eu era pelos pássaros, os besouros, os ovos
de perdiz. E os achados se transformam em deslumbramentos: o besouro de
muitas cores, relâmpago vestido de arco-íris;
o ninho silvestre, tecido em musgo e pequenas plumas; as bolotas do
carvalho, maravilhosa bolota verde e
polida com sua casca enrugada e gris.
E as cores lhe explodiam nos
olhos e os ouvidos se lhe enchiam de sons: o apito do trem, o lamento romântico do acordeão, o estrondo de
coração colossal das ondas do mar, os nomes das estações de trem na região
dos antigos araucanos: nomes com aroma de
plantas selvagens cujo significado era algo de delicioso: mel escondido, lagoas ou rio perto de um
bosque ou cerro com nome de pássaro.
E em meio à infância
solitária, Pablo Neruda explora a natureza forte e misteriosa do sul do Chile,
das árvores cheias de frutos, dos insetos que vai encontrando e, apenas
alfabetizado, escreve os primeiros versos. Lembra dessa emoção, desse traçar de
palavras semirrimadas, estranhas, diferentes da linguagem cotidiana que
pôs no papel, preso de uma ansiedade profunda, de um sentimento até
então desconhecido, espécie de
angústia e tristeza. Ainda cheio de emoção, leva os versos para mostrar aos
pais. Eles cochichavam, submergidos numa
dessas conversas em voz baixa que dividem mais do que um rio o mundo das
crianças daquele dos adultos.
Pablo Neruda lhes estendeu o
que havia escrito e o pai, distraído, passa os olhos e o devolve, perguntando
de onde havia copiado aquilo. E continuou falando de seu importante assunto com
a mulher.
E diz o poeta: Parece que eu lembro que assim nasceu meu primeiro poema e que assim recebi a primeira mostra distraída da crítica literária.

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