Luiz Carlos Prestes passara
mais de dez anos na prisão e, em 1945, fora posto em liberdade. No Pacaembu
estava preparado um grande comício e Pablo Neruda viera do Chile para
participar doencontro do líder comunista com seu povo. Mais de cento e trinta
mil pessoas estavam presentes no Estádio e para elas o poeta leu o poema que
depois fez parte do IV Canto, “Los libertadores” do Canto general.
Poucas horas antes o
escrevera para ser lido e o primeiro verso de “Dicho en Pacaembu” é na verdade
uma frase prosaica e coloquial: Quantas
coisas quisera dizer, hoje, brasileiros
e enumera isto que desejaria contar – histórias, lutas, desenganos, vitórias,
pensamentos, saudações do outro lado da América – para falar desse presente em
que Luiz Carlos Prestes, é rodeado dum
mar de corações vitoriosos. Para lembrar essa noite de Paris em que pedia
pelos republicanos da Espanha quando
pronunciou-lhe o nome, seu nome foi saudado pela multidão, velhos operários com os olhos unidos, olhavam para o fundo do Brasil e
para a Espanha.
Nesse ano de 1945, viera
para vê-lo, para contar depois como era
Luiz Carlos Prestes e o que dizia.
Anos mais tarde, em Confieso que he vivido o irá descrever
como pode vê-lo diante da multidão, apenas posto em liberdade: diminuto de estatura, me pareceu um lázaro recém
saído do túmulo, pulcro e luzente para a ocasião. Era magro e branco até a
transparência com essa brancura estranha dos prisioneiros. Seu intenso olhar,
suas grandes olheiras roxas, suas delicadíssimas feições, sua grave dignidade,
tudo lembrava o longo sacrifício de sua vida.
No encontro que então
tiveram, narrado no capítulo “Prestes” de Confieso
que he vivido menciona novamente a aparência frágil que lhe dava sua pequena estatura, sua magreza, sua brancura de papel transparente em acorde
com suas palavras e com seu pensamento de uma
precisão de miniatura. Fala, também, do trato cordial que recebeu e do convite
para almoçar na semana que se seguiria.
Na terça feira, Pablo Neruda
foi à praia com uma bela amiga brasileira
para, na quarta, se inteirar que o legendário
capitão o havia esperado, inutilmente, no dia anterior com a mesa posta
enquanto ele passava o dia em Ipanema.
Pablo Neruda já havia feito um poema para Leocádia Prestes, recitado à beira de seu túmulo, no México, onde ela fora em demanda de liberdade para o filho. O Presidente do México havia solicitado a Getúlio Vargas a permissão para que Luiz Carlos Prestes pudesse assistir ao enterro da mãe. Diante da resposta negativa, indignado, Pablo Neruda faz essa homenagem póstuma que passa a ler nos recitais pelo mundo a fora.
Em 1949, torna a escrever
outro poema para Luiz Carlos Prestes. Também faz parte do Canto general, o número XL e tem por título “Prestes do Brasil”. É
o Prestes da Coluna que percorreu o Brasil que está presente nesses versos, a
sua tragédia pessoal, seu martírio de prisioneiro e, ainda, esse apoteótico
momento em que frágil e firme sua estrutura,
pálido como o marfim fala pela
fala pela primeira vez para o seu povo no Pacaembu.
O Luiz Carlos Prestes do
cotidiano, porém, Pablo Neruda não conheceu naquele dia em que era esperado.
Pelo que diz ser sua absoluta incapacidade de aprender o dias da semana em
português ele não compareceu ao encontro marcado.
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