O mês de
setembro, no sul do Continente latino-americano, é um mês amplo e florido.
Também este mês está cheio de bandeiras. Pablo Neruda
Pausa no seu livro de
memórias, Confieso que he vivido
esse lembrar-se das insurreições que, no começo do século passado, despontaram
ou se consolidaram nas terras do Continente. Sob o título “Bandeiras de
setembro”, Pablo Neruda se põe a recordar os libertadores – Bolívar, San
Martín, José Miguel Carrera, O’Higgin – que, entre façanhas, amores e
sofrimentos, iniciaram no Continente um novo caminho para mudar-lhe o destino.
Conclui que a História continua o seu caminho e que uma nova primavera habita os intermináveis espaços de nossa América.
Em 1973, depois de viver
essa esperança que apregoara como crença, Pablo Neruda viveria a sua última primavera.
Era outra vez mês de setembro, o Chile estava vivendo a sua época de terror
quando em Santiago, no dia 23, ele morria.
Sobre a angústia, a solidão
e o constante amor por Matilde, sentimentos que o acompanharam nos últimos
tempos de vida, ficaram os versos dos livros publicados postumamente.
Mas, como a hora de nascer,
também os momentos da morte são vedados aos demais.
Se sabe que nacemos, diz no poema “Los nacimientos”, um dos que fazem parte do livro Plenos poderes (Losada, 1962). Quanto ao mais, porém, seja onde for – na sala, na exígua casa de pescadores, no tórrido canavial – o que existe é silêncio no momento em que a mulher se dispõe a parir.
E a memória que se perde
desse importante instante em que se transita para o existir, para ter seu corpo
e amar e amar, e sofrer e sofrer.
Tudo se perde na memória. De
lembranças, os homens tem nada mais do que a vida, anotada dia a dia, no tempo
que transcorre, no amor concedido.
Sobre aquele minuto de morrer, nada se diz, ele é dado a outros de lembrança / ou simplesmente à
água, à água, ao ar, ao tempo.
Nesse refletir sobre o
nascer e o morrer, a verdade de Pablo Neruda é para todos. Como para todos,
verdadeira oferenda, é a beleza de seus versos.

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