Assim, livre como a seriema, partiu o gaúcho Lothar Francisco Hessel para
conhecer a Europa em meados de 1966. O que viu, então, foi registrando, dia a
dia e, em 1994, esse testemunho de quase trinta anos passados foi publicado
pela Editora Parlenda de Porto Alegre sob o título Europeus vistos de perto.
Lothar Hessel partiu do
Brasil pelo Cabo San Vicente, navio espanhol cujo irmão gêmeo se chamava Cabo
San Roque. Naqueles idos da década de 60, suas idas e vindas pelo Oceano
Atlântico se cruzavam no meio da viagem e acontecia, então, aquele momento de
confraternização entre um navio e outro. Soavam as sirenes, acendiam-se todas
as luzes e os passageiros cumprimentavam alegres os que iam em sentido contrário,
emocionados com a visão que se perdia na noite e no mar.
No dia 15 de março, de
madrugada, as primeiras luzes das costas da África e da Europa começavam a se avistar.
E se iniciavam as andanças de Lothar Hessel pelo Velho Continente.
Nas cidades, as visitas às
igrejas e aos museus, o prazer dos espetáculos e de ser recebido pelos professores
que, ligados por interesses comuns, foram, tantas vezes, seus anfitriões.
E, desfilando pela janela do
trem, algo da paisagem européia que em breves descrições iluminam o texto,
assim como aquelas que se originam do que vai descobrindo nas caminhadas por
pequenos povoados: planícies bem cultivadas, verdes, de um verde por vezes
claro e sem os matizes que oferece no Brasil; vinhedos, oliveiras, álamos,
choupos, pequenos rebanhos de ovelhas, pradarias
ondulantes e aprazíveis, o detalhe de um quintal de canteiros de miosótis floridos entre os quais esgueiram suas lindas corolas,
algumas tulipas. E uma ou outra visão efêmera cristalizando esse momento em
que um lavrador ara seu campo, um outro trabalha no trator entre as vinhas
rasteiras e a mulher planta alhos perto de sua casa.
Por vezes, insinuando-se
naquilo que tem diante dos olhos, a lembrança dos campos verdes do Rio Grande
do Sul, das plantações de eucaliptos, do gado solto.
E então, quando já se viu no
trem, iniciando a viagem de regresso, se sentiu contente. Pensou no cavalo
gaúcho que ao perceber estar voltando para a querência, fica mais alegre, anda
mais ligeiro.
No dia 13 de junho, em
Cádiz, cidade de aspecto velho e cinzento, ele embarcava outra
vez, agora de volta ao Brasil, depois de três meses e vinte e dois dias pelo
velho Continente.
Deixou-o, quem sabe, um
pouco melancólico ao dizer na última frase de seu livro que talvez o deixasse para sempre.
Mas, nessas páginas em que foi anotando o seu itinerário de observador prazeroso, não apenas prolongou, para si mesmo, a sua presença como a ofereceu àqueles para quem o ato de ler é, ainda e também, uma viagem que não deve ser perdida.

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