domingo, 19 de fevereiro de 1995

As fotos da vitória

          Vista del amanecer en el trópico, breves episódios que parecem nada ter entre si, embora se unam uns aos outros por aquelas razões que sempre conduziram o destino dos povos: as que muitas vezes servem para justificar a opressão e a injustiça. História da Ilha feita de momentos decisivos de uma vida e de ações coletivas. Multifacetados testemunhos emergindo do verso do poeta, do manifesto, do edito, do diário de campanha, da narrativa oral, da correspondência, da história oficial, da gravura, da foto.
          As fotos da Vitória e aquela da Derrota.

          Guillermo Cabrera Infante, nascido em Cuba em 1929 tem para elas um olhar minuciosamente atento. Filho do Continente, embora tenha optado pela cidadania inglesa, essas imagens lhe oferecem  leituras que alimentam a ironia presente nos textos inspirados nessas fotos.Assim, as fotos da Vitória. Ao se deter sobre uma delas, Guillermo Cabera Infante inicia o seu texto dizendo que a foto é de um curioso simbolismo. Sinaliza o fim de uma tirania militar ao mesmo tempo que entroniza um soldado . Soldado que é o elemento central da foto. Sua postura e seu gesto – cabeça erguida, a mão direita segurando o rifle para o alto – fixam-no em triunfo. Para ele convergem os acenos de dois homens do povo. E detrás deles se percebe parte do cenário: sacadas de ferro forjado, janelas abertas e, na esquina, uma publicidade de linha aérea, em inglês. Uma outra foto mostra o ambicioso general , a paisano, sorridente,rodeado de militares, coronéis e capitães  que uma hora depois serão generais e brigadeiros. E, ainda, uma terceira foto documenta o Comandante em Chefe, entrando na cidade com mais um comandante, num jipe, sendo aclamado pela multidão. Na realidade, eram dois Comandantes que o acompanhavam, mas o fotógrafo não conhecendo um deles o cortou da foto para fazê-la mais compacta. Ato que Guillermo Cabrera Infante chamou de adivinhação histórica pois, meses depois, esse Comandante era acusado de traição e condenado a permanecer trinta anos na cadeia. São retratos  esboçados, desta vez em textos que fortemente os relacionam com os demais do livro. São expressões fugazes e subentendidos a sugerir incertezas: a multidão parece estar entusiasmada com a vitória de sua causa; os militares, beneficiados pela vitória, parecem não se importar com a  cisão que tais benefícios possam provocar; a multidão saudando três comandantes que, poucos meses passados, serão dois, pois um deles irá cair em desgraça.

          Certamente  significados que se acrescentam àqueles oferecidos na rigidez das imagens, permitindo interpretações que se distanciam do propósito que as originou: documentar um momento de vitória, com a pretensão de fazer disso uma verdade.

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