domingo, 12 de fevereiro de 1995

A ilha

          Guillermo Cabrera Infante começou a escrever em 1947, quando tinha dezoito anos. Contos, crítica de cinema, relatos.

          Em 1964, recebeu o Prêmio Biblioteca Breve da Editora Seix Barral de Barcelona com Três tristes tigres. Esse romance, originariamente se chamaria Vista del amanecer en el trópico, título que serviu para outra de suas obras, publicada, também pela Seix Barral em 1974 e que é constituída de breves relatos.
 
          O primeiro e o último tratam de um espaço geográfico: a longa ilha de cor verde, com algo de dourado ou de vermelho. Entre o oceano e o golfo aí está,expressão com que termina o primeiro texto.  Bela e verde, imorredoura, eterna, são as últimas palavras do livro que assim  definem  a ilha no último texto iniciado com a expressão e aí estará que torna circular a estrutura da obra. Nela, se inscreve a história dos homens que, ao longo dos anos, pelas mesmas razões ou por aquelas que se querem diferentes, foram perseguidos e maltratados e mortos.
 
          Não há datas, não há nomes, não há topônimos, somente fatos que sendo sempre os mesmos se repetem e se repetem como se o relato começasse outra vez: a morte pelo fogo dada ao índio; o tratamento de exceção sofrido, invariavelmente, pelo negro; o massacre que sempre acaba por ocorrer nas lutas desiguais, o definitivo castigo para os que se revoltam ou conspiram; as leis injustas e inconseqüentes; as sessões de tortura; os cadáveres abandonados em lugares públicos para servir de exemplo aos que tencionassem fazer reivindicações.
 
          Entre esses relatos dedicados à tristeza dos humanos do Continente que o passar do tempo não ameniza e às lutas, nem sempre vitoriosas que devem empreender, tentando fugir dos malfadados destinos, se insere um cenário: la sierra, a cordilheira. Que somente é alcançada depois das planícies, potreiros, pomares e rebanhos, erguendo-se entre os pântanos e o mar: quando começam a aparecer os coqueiros e as palmeiras, as árvores de madeira preciosa, as orquídeas selvagens, por vezes as frutas – a goiaba, o mamão, a manga – logo substituídas pelas espécies gigantes unidas por espessa vegetação. E há todo um mundo de insetos, de borboletas, de pássaros. O ar se torna tênue e as nuvens muito próximas. Tão próximas quanto os abismos de quedas verticais. Vez por outra, um planalto inteiramente verde, desde o solo coberto de um verde tapete vegetal e das árvores e arbustos cobertos de líquens até a própria luz solar que se mostra verde.
 
          Paisagem anódina, delineada em traços rápidos, breve relâmpago de harmonia entre os quadros que se sucedem para compor a história de heroísmos e traições que os homens instauraram na ilha.
 
          O heroísmo dos que enfrentam com tranquilidade a morte decidida pelo mais forte ou o de suportar todas as perdas. A traição ignóbil presente em cada luta que não respeita os que se rendem nem os que ainda acreditam nas palavras proferidas.
 
          Uma história que é feita sobretudo de desacertos e de esperanças nos quais se enredam os habitantes do Continente.

          Porque a Ilha estará sempre aí, a mercê dos homens que conduzem seu destino.

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