São três fotos que estão sob
o olhar de Guillermo Cabrera Infante. De comum, entre elas, o estarem fixando
um momento de Derrota na interminável luta que a Ilha foi presenciando desde
que os primeiros homens chegaram para habitá-la.Uma trágica derrota pois se
trata do registro de mortes. De mortes violentas.
Uma das três fotos mostra
homens baleados, um pedaço de asfalto, o mar. Embora a descrição seja
feita como que a seguir a técnica do Nouveau Roman - referências objetivas sobre
tudo o que é possível perceber e incertezas confessadas, introduzidas pelas
expressões quiçá, deve ser, - no segundo e último
parágrafo, dos dois que compõem o texto, se acrescenta uma informação. Que, ou
se origina de uma possível legenda não mencionada, ou de fatos conhecidos e
inegáveis: faz horas que estão mortos e
os deixaram aí para escarmento e medo.
Mas, principalmente, é um
ter conhecimento de fatos relacionados com as fotografias. Conhecimento também
evidente nos textos dedicados aos dois retratos.
Um deles, registra aquele que se fantasiou de soldado para por fim a uma
tirania. Ele aparece sentado no chão, olhando para o fotógrafo. Visível, a
ferida que tem na perna. Tudo o mais que sobre ele é dito se origina das lembranças
que sobraram de seus últimos gestos, de suas últimas palavras. E, de poder
adivinhar, profundamente, o que lhe vai no íntimo: que não sente medo e nem dor
e que aos que o interrogaram respondeu tranqüilo, como tranqüilo olhou para o
fotógrafo que lhe fixou a imagem.
E imagem, chama Guillermo
Cabrera Infante a esse outro retrato que descreve. A de um comandante do Continente,
barbudo e de cabelos compridos que veste uma camisa puída e tem ao redor do
pescoço um cachecol.Na assaz minuciosa descrição, chamada de inventário por Guillermo Cabrera Infante
- e o cinturão, e as botas, e o punhal na bainha, e a pistola no coldre - se
inclui o conteúdo dos bolsos e a expressão de seu rosto, de boca séria e olhos
que se divertem com a foto.E, no parágrafo seguinte, a informação de que já
está morto, vítima da rápida trajetória que fez dele, em seis meses, um comandante
mestre da guerrilha e da estratégia, que deixou para trás o comerciante que ele
fora. Mas, não o quê, além da coragem, também tinha sido: o mulherengo, o
trocista, o quase frívolo que noutro
tempo e em outro país teria sido um toureiro de vitórias, um fugaz automobilista,
um playboy feliz.
No Continente, dele ficou a
imagem do herói. Ignora-se de qual causa, como se ignora aquela que defenderam
os que foram assassinados a bala ou à pancadas e expostos ao olhar público como
aviso e lição; ou aquele que foi morto com um tiro na nuca enquanto descia as
escadas, mancando pelo ferimento e algemado.
Sem dizer nomes, sem
mencionar lugares ou datas ou as incontestes verdades que, muitas vezes, regem
atos injustos e cruéis, o escritor cubano esboça histórias da Ilha onde os
heróis e os vilãos existem segundo a ótica de quem os vê. Mas, em Vista del amanecer em el trópico
(Barcelona, Seix Barral, 1974) é como se tal não importasse e sim esse repetir
constante de atos iguais e semelhantes que parecem nada redimir ou mudar.



