Em novembro de 1990, aparece
em Buenos Aires, El juguete rabioso.
Uma revista que, entre outros sentidos
produz o de ser um texto sobre a leitura, diz Maite Celada, professora da
USP, quando interpelada sobre a publicação.
Nesse primeiro número, El juguete rabioso relê a obra que
homenageia no seu título e a reinscreve, como as demais de Roberto Arlt, na
História Literária Argentina num plano que, até então, não havia sido muito bem
delineado.
“Escritor de ruptura”, os
contemporâneos não lhe entenderam a temática centrada em personagens
“humilhados e ofendidos”, nem essa linguagem que rigorosamente se afastava
daquela a serviço dos mais admirados textos da ficção argentina dos anos vinte.
E os primeiros críticos dele se aproximaram presos aos parâmetros vigentes,
que, por atrelados a sacrossantos modelos europeus, não admitiam
marginalizações.
Os quatro articulistas de El juguete rabioso retomam, então,
afirmações e análises para refazê-las e, assim, redimensionar o lugar que
Roberto Arlt deve ocupar na Literatura Argentina.
A partir de uma argumentação
que se apóia na gênese da obra, no trabalho de elaboração dos textos, na
formação do escritor e na relação que mantém com seu meio e com sua época, nas
influências recebidas e no estudo do próprio texto ficcional, passam a ser
irrelevantes as preocupações demonstradas por alguns críticos com um
vocabulário considerado pobre e vulgar ou com temas tidos como degradantes.
E, sobressaem qualidades que
não haviam sido aquilatadas nessa ambigüidade que caracteriza o texto de
Roberto Arlt.
No romance El juguete rabioso, onde se acumulam
misérias, atos mesquinhos e marginais, seres humanos em descaminhos e infelizes,
como uma crença, uma esperança, uma imutável realidade, se infiltra a luz, está
presente o sol.
Assim, no fundo da loja de
livros usados dominada pelo cheiro de mofo, a mancha de sol bate nas lombadas
de couro; assim, no quarto em que desperta de uma tentativa de suicídio, o
personagem vê um raio de sol que faz desenhos na parede branca; e assim, as
carnes penduradas no açougue são iluminadas pelo sol da manhã.
Uma luminosidade que chama o
jovem personagem para a vida. Na estrutura do romance, uma presença para
contrabalançar o mal que parece dominar e que deve ser vencido.
Talvez uma esperança vã no
espaço do Continente.

Nenhum comentário:
Postar um comentário