Centra-se na primeira parte
em Erdosaín, o perfeito anti-herói, um magnífico personagem da galeria dos
humilhados e ofendidos, um dos sete loucos que, numa estranha polifonia
expressam o desejo de refazer o mundo.
A voz de Erdosaín se alça e
se cruza com a do rufião, do militar, do buscador de ouro, do pregador, do
assassino para se opor à sociedade viciosa que, impotente para assimilá-los, os
anula.
Os monólogos se sucedem e
buscam a destruição dos valores e das normas por meio de uma violência que
procuram justificar quando pretendem um futuro onde sejam neutralizadas as
mazelas desse tempo em que vivem.
São discursos que reproduzem
a realidade social e política do meio e da época argentina da segunda década,
afastando-se, porém de seus cânones literários e de seu gosto, ao acrescentarem
a esse realismo, elementos não somente críticos mas condenatórios.
E no monólogo interior, no
diálogo, no solilóquio, na narrativa onisciente ou naquela cujo status de relator
lhe permite acrescentar fatos ou informações há quem fale em Deus, ou mais
precisamente, de sua ausência; há quem explique invenções cujo intuito é
enriquecer; há quem explane sobre a fácil maneira de obter dinheiro através do
lenocínio; há quem, mais torpemente, encontre a solução para problemas
financeiros no assassinato.
Porém, mais do que um
acontecer, se trata de procurar entender ou explicar um vazio existencial, um
desajuste social, uma alucinação predatória.
E, ricos de dinheiro fácil,
como o Rufião e o herdeiro, ou pobres e desorientados, os personagens se
nivelam pela infelicidade e por lhes ser impossível o encontro com seus
semelhantes.
Há uma solidão
intransponível em cada um dos sete loucos que as palavras não tem forças para
diluir. E a alienação e a loucura advêm como um caminho. Seja para se salvar de
um mundo que é nefasto, seja para modificá-lo, seja, por meio da violência,
destruí-lo.
Discurso inovador, estrutura
romanesca inusual, Los siete locos
surpreendeu.Diz, então, Juan Carlos Onetti
que a cidade inteira leu Los siete locos
mas que os intelectuais de Buenos Aires resmungavam que Roberto Arlt não sabia
escrever. E o romancista uruguaio acrescenta:
É verdade, ele não sabia; mas dominava a língua e os problemas de milhões de
argentinos, incapazes de comentá-lo em artigos literários, capazes de
entendê-lo e senti-lo como amigo que chega - áspero, silencioso ou cínico - na
hora da angústia.



