Autor de contos que foram
reunidos em Corpo e Sombra
(Movimento, IEL, 1977), O homem que
amava cavalos (Movimento, 1983) e A
noite do Homem-Mosca (Tchê, 1989), Laury Maciel, gaúcho de Taquara, estréia
no romance com Noites no sobrado (Mercado Aberto) . Publicado
em 1986 é o primeiro romance de uma trilogia, cujo segundo volume Rosas de papel crepom apareceu no ano
passado também sob a égide da Mercado Aberto de Porto Alegre.
Derrocada social e psicológica de uma família do interior do Rio Grande do Sul é dito na apresentação do livro pela Casa Editora. E o romancista gaúcho Luiz Antonio de Assis Brasil, por sua vez, dele diz que se trata de um livro que, mais do que um romance íntimo é um romance de apreciável cariz político. Os anos ali tratados correspondem a um período em que a atividade pública era considerada como uma espécie de sedutor jogo de forças onde havia lugar - ainda - para o idealismo e figurantes carismáticos, cândidas velhacarias, comícios arrebatadores.
São os anos trinta. O golpe de Estado leva à demissão de todos os dirigentes para que possam ser nomeados os Interventores.
O coronel Jacob Bremen, Prefeito de Mundo Novo, porém, convicto de que eleito pelo povo não deve entregar a Prefeitura de onde, no seu dizer, somente sairá morto. Em discursos inflamados, convida o povo a defender a legalidade. Muitos acorrem e enfrentam as forças do novo governo e no ataque à Prefeitura rebelde e na sua defesa, morrem alguns. O Prefeito, cercado, entrega egue para a
Capital e, também preso, Severino Cascata.
Severino Cascata cuja única
luta, até então, havia consistido em escrever um romance folhetinesco que
girava, unicamente, em torno de patéticos e desastrados amores. Mas, alguém o
delatara e fora o suficiente para ficar preso, incomunicável e sem defesa
porque o advogado contratado não tinha acesso aos Autos.
Nada foi apurado, mas
enquanto se arrastava o inquérito, Severino Cascata sofria na prisão.
E, numa noite, ele chega de
volta em casa feito um farrapo: o cabelo
desgrenhava-se até as orelhas, a barba crescida, os olhos encovados, as faces
sumidas, as calças e o casaco rotos.
E houve choro e beijos e
abraços para recebê-lo. Banhou-se, dormiu, no dia seguinte foi em busca da
mulher por quem estava apaixonado. E retoma seus hábitos como se tivesse
esquecido as arbitrárias injustiças e maus tratos que recebera.
Dos demais presos nada se
sabe, os mortos foram enterrados e chorados e Mundo Novo se submeteu às “novas
leis” instauradas no país.
E Ana, Arthur Bayer, Umbelina,
Esteban, Maria Pia, nada ou muito pouco perceberam do que acontecia ao seu
redor, vivendo, como o assinalou Sergius Gonzaga no prefácio de Rosas de Papel crepom, as suas pequenas tragédias.
Pequenas tragédias amorosas,
centro de vidas que se estiolam nesse reduzido ambiente de cidade pequena do
interior. Insinuação possível de uma geografia mais ampla, em que os
acontecimentos primordiais dos destinos de um país parecem nada mais ser do que
pano de fundo de um cotidiano inexpressivo e sem futuro. Que no entanto, talvez
seja suficiente para os habitantes do Continente que, mergulhados na
indiferença ou na impotência, só esperam e só aceitam filialmente, as soluções
prontas oferecidas pelas Instituições.
Mas, Rosas de papel crepom, se inocente, também é romance de paixões,
representação de um universo interiorano, esboço de um momento político,
habitado por personagens que enfrentam sentimentos românticos aparentemente
ultrapassados e feito de situações tristemente cômicas. E Laury Maciel, um ágil
e arguto narrador.

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