Não saíram dos portos do sul para por as mãos do povo no saque e na
morte .Pablo
Neruda.
No Canto III do Canto General a chegada dos espanhóis,
com seus ódios e ambições, é cantada, sem complacências, por Pablo Neruda. Os carniceiros
arrasaram as ilhas, diz o
primeiro verso desse Canto III que tem por título “Os conquistadores”. E são
esses conquistadores que chegam às ilhas, em 1493, que o poeta chama de carniceiros.


E logo foi o
sangue e a cinza é o verso que inicia o segundo poema: síntese do que, página após
página será contado no Canto general. Punhais
e fogueiras,determinando posses, apagando um passado de séculos.
No México, na Colômbia, no
Panamá, no Peru, no Chile foram chegando os barcos e os personagens que Pablo
Neruda chama de chacal podre, cruel porco da Extremadura, capitão intruso, vertebrados sanguinários unidos para se repartir a terra e seus
frutos.
O terror se instalou então
no Continente, repetindo o Velho Mundo onde viviam não somente os que eram
amos.
Neruda lembra que os
conquistadores, esses Arias, Reyes, Rojas, Maldonados que povoavam os barcos
também de medos e incertezas, eram os
filhos do desamparo castelhano / conhecedores
da fome no inverno / e dos piolhos
das hospedarias. Os que se
aventuraram nas intermináveis viagens em oceanos desconhecidos para fugir das
misérias antigas.
Deserdados, eles são. Pablo
Neruda imagina a sina que lhes seria destinada se continuassem a viver naquelas
terras áridas que não lhes pertenciam e onde deveriam ser submissos à mãe, ao irmão, ao Juiz, ao Padre / aos inquisidores, ao inferno, à Peste.
E imagina os rostos
barbados, as caras hirsutas, as mãos rotas no trabalho e os braços de ferreiro.
Esses olhos de criança olhando o Continente que se aproxima e que eles querem
de terras verdes, liberdades, correntes
partidas, fugitivos que são do látego feudal, do calabouço, das prisões cheias de
excrementos.
Atravessaram os mares,
sofreram os rigores do sol e das incertezas e das separações, das cruéis
violências e bárbaras destruições apenas para reencontrar um Novo Mundo. Mas ele já havia sido
dividido em castas. Os pobres do mundo, a
inumerável e castigada / família dos pobres
do mundo, dos versos de Neruda, se perpetuaram, então, no Continente.
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