domingo, 19 de agosto de 1990

Compromisso com o homem


            A obsessão da morte tem sido assinalada como uma constante na obra de Carlos Droguett. No Prólogo que acompanha o seu primeiro romance, o crítico Juan Luigi, depois, tantas vezes citado, dizia que a morte inteira, sobretudo a violenta em suas distintas formas, floresce no romance: a dos assassinos de arma branca, a dos suicidas, as do assassinato, a da guerra, a dos fuzilamentos e, principalmente, a do massacre ocorrido em pleno centro de Santiago, cerne da obra.

            O massacre referido ocorreu no dia 5 de setembro de 1938, quando um pequeno grupo de estudantes neonazistas intentou uma ação violenta contra o governo. Encurralados no prédio do Seguro Obrero, em poucas horas, são mortos pelas forças da lei.

            Um ano depois, no dia 3 de setembro, Carlos Droguett publica em La Hora, de Santiago, uma crônica sob o título “Los asesinados del Seguro Obrero” que pretende reavivar a lembrança da tragédia. Para falar no que acontecera um ano antes, ele se  refere aqueles que acreditam que é bom esquecer, os eternos bondosos mas afirma que antes de esquecer um pouco é preciso que se recorde muito, bastante, raivosamente.

            Muitos anos mais tarde, em 1951, ele  tornará a recordar. Reescreve  a crônica  e nela intercala cinco histórias e alguns textos jornalísticos, formando um mundo romanesco cujo título Sesenta muertos en la escalera, sintetiza a matança de 1938  que será a narrativa básica do romance. Premiada pela Editora Nascimento no seu Concurso de 1953,  a obra foi publicada nesse mesmo ano.

            Construída em seis capítulos nos quais se inserem as diferentes seqüências narrativas e o material jornalístico que percorrem caminhos, aparentemente diversos mas que, na verdade, estão a formar um mundo de morte e de misérias onde o dizer individualista dos sentimentos do autor ao expressar a sua experiência, expressa, também  aquela que pode ser a experiência de outros seres humanos.

            E assim será quando uma primeira pessoa inicia o capítulo “Antecedentes”. Um narrador que, desejando refazer os fatos, antes  se detém no aparentemente sem importância: a ida para o trabalho sob o sol do meio dia, dominado pela lembrança da mulher amada, pela lembrança de um amor que é alegria e tormento, que pode querer ser morte mas que, sobretudo, é vida. A profunda e inusitada concepção de um sentimento que, desde sempre, os homens tem querido compreender e o significado que tais palavras podem adquirir na tentativa para decifrar a alma do escritor, nessas páginas de Carlos Droguett sobre o amor  revelam um importante momento de sua vida intelectual e afetiva.
            Talvez não sejam suficientes para conduzir à compreensão de um homem que jamais deixou de reagir contra as agressões de que é tão pródigo o Continente. Mas, sem dúvida, podem ajudar a refletir sobre essa grandeza de alma que leva Carlos Droguett a

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