A
obsessão da morte tem sido assinalada como uma constante na obra de Carlos
Droguett. No Prólogo que acompanha o seu primeiro romance, o crítico Juan
Luigi, depois, tantas vezes citado, dizia que a morte inteira, sobretudo a
violenta em suas distintas formas, floresce no romance: a dos assassinos de
arma branca, a dos suicidas, as do assassinato, a da guerra, a dos fuzilamentos
e, principalmente, a do massacre ocorrido em pleno centro de Santiago, cerne da
obra.
O
massacre referido ocorreu no dia 5 de setembro de 1938, quando um pequeno grupo
de estudantes neonazistas intentou uma ação violenta contra o governo.
Encurralados no prédio do Seguro Obrero, em poucas horas, são mortos pelas
forças da lei.
Um
ano depois, no dia 3 de setembro, Carlos Droguett publica em La Hora, de
Santiago, uma crônica sob o título “Los asesinados del Seguro Obrero” que
pretende reavivar a lembrança da tragédia. Para falar no que acontecera um ano
antes, ele se refere aqueles que
acreditam que é bom esquecer, os eternos
bondosos mas afirma que antes de esquecer
um pouco é preciso que se recorde muito, bastante, raivosamente.
Muitos
anos mais tarde, em 1951, ele tornará a
recordar. Reescreve a crônica e nela intercala cinco histórias e alguns
textos jornalísticos, formando um mundo romanesco cujo título Sesenta
muertos en la escalera, sintetiza a matança de 1938 que será a narrativa básica do romance. Premiada
pela Editora Nascimento no seu Concurso de 1953, a obra foi publicada nesse mesmo ano.
Construída
em seis capítulos nos quais se inserem as diferentes seqüências narrativas e o
material jornalístico que percorrem caminhos, aparentemente diversos mas que,
na verdade, estão a formar um mundo de morte e de misérias onde o dizer
individualista dos sentimentos do autor ao expressar a sua experiência,
expressa, também aquela que pode ser a
experiência de outros seres humanos.
E
assim será quando uma primeira pessoa inicia o capítulo “Antecedentes”. Um
narrador que, desejando refazer os fatos, antes
se detém no aparentemente sem importância: a ida para o trabalho sob o
sol do meio dia, dominado pela lembrança da mulher amada, pela lembrança de um
amor que é alegria e tormento, que pode querer ser morte mas que, sobretudo, é
vida. A profunda e inusitada concepção de um sentimento que, desde sempre, os
homens tem querido compreender e o significado que tais palavras podem adquirir
na tentativa para decifrar a alma do escritor, nessas páginas de Carlos
Droguett sobre o amor revelam um
importante momento de sua vida intelectual e afetiva.
Talvez
não sejam suficientes para conduzir à compreensão de um homem que jamais deixou
de reagir contra as agressões de que é tão pródigo o Continente. Mas, sem
dúvida, podem ajudar a refletir sobre essa grandeza de alma que leva Carlos
Droguett a

Nenhum comentário:
Postar um comentário