domingo, 6 de maio de 1990

La luna que cae: uma narrativa feita de murmúrios


            No dia 28 de setembro de 1989, em Barcelona, acaba de sr impresso, pela Muchik Editores, La luna que cae. Segunda parte de uma trilogia cujo primeiro volume, Criador de palomas foi publicado pela Bruguera de Buenos Aires, em 1984, e pela Muchnik, em 1989, ano em que, também, apareceu em francês, pela Actes-Sud de Paris. Prometida  para a primavera européia deste ano, a terceira parte, El soñador de Smith.

            Em Criador de palomas, o menino, personagem central da narrativa, aprende da vida o amor, a ternura, a dor e a perda. Em La luna que cae, ele a enfrenta.

            O adolescente que tomara o trem para partir para o sul, para o frio, retorna. As últimas páginas de Criador de palomas dizem desse retorno e dos reencontros. O tempo havia passado. Era verão em Algarrobos e após os anos de ausência, na praça da pequena cidade, os laços que, aparentemente mal existiam, se estreitam. Em La luna que cae, o adolescente se fizera homem e voltara para se ancorar na velha casa de sua infância e no amor de Rosita.

            A narrativa desses amores e dos fantasmas que habitam o Pibe (Guri) e Rosita é quase só um sugerir. As vozes, poucas, mal se alçam para falar a meias ou em sussurros. Pibe quase sempre silencia e Rosita pouco fala. O leitor é informado de seus temores, desejos e alegrias por um narrador que lhes segue os pensamentos mas que não se dispõe a elucidar dúvidas. E, então,  o que ignoram Rosita e o Pibe é, também, o que ignora o leitor.

            O verão se escoa na felicidade dos amantes  que se submergem em erotismo, em ternura. E, o passado que se insinua na força das lembranças (morte e vida), como o presente de surpresas vis (morte e hipocrisia) não é tão forte que impeça a vitória do amor.

            Só ele merece todas as palavras. A morte do Negro, tio que fez o papel de pai para o Pibe, o suicídio do pai de Rosita são momentos da narrativa que se furtam à clareza. Vozes se calam, o narrar se interrompe. Sobre o poço que abriga os cinco cadáveres, nódoa que se instala no verão de Algarrobos, nada se explica  como não se explicam as mortes que contém, a identidade dos cadáveres, por que ali foram jogados ou por qual razão. Mortos que alguém afirma não serem da cidade e, por isso, só provocam perguntas e dúvidas que, nem por um instante, alguém deseja ver respondidas ou elucidadas. O Pibe gostaria de saber, mas cala. Clementino diante do espetáculo macabro, com algo de reprimido no seu  íntimo, pouco ou quase nada deixa transparecer.

            E, se os personagens não querem  (  evitando compromissos) ou não podem saber ( porque em torno dos fatos reina o silêncio), compete ao leitor entender além do que lhe é narrado.

            Gerardo Mario Goloboff, também escritor de poemas e de crítica literária, é argentino. Em La luna que cae ele apenas esboça os seus personagens, ele apenas conta algo de suas vidas que transcorrem nesse povoado de nome inventado.

            Mas, aí está – e nisso consiste a sua  maestria – e muito clara, a presença de seu país e com ele, o mapa do Continente.

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