Em
1981, quando se realizava em Paris o Colóquio
Internacional sobre o conto latino-americano, num fim de tarde, tomando
mate gelado, em busca do gosto do
tererê, num dos cafés do Quartier Latin, Rúben Barreiro Saguier falou sobre suas
vivências de intelectual no exílio, sobre seus escritos. Eis algo do que foi
dito, então.
Durante algum
tempo ainda pode ir e vir entre seu
país e a França mas, em 1972 foi preso
em Assunção onde permaneceu incomunicável por dois meses e, só a pressão
internacional propiciou a sua liberdade,
iniciada no avião que o levaria, novamente, para o exílio. E no exílio
permaneceu, ensinando o Guarani na Universidade de Paris. Na verdade, Rubén
Bareiro Saguier esquecera há tempos o curso que havia feito para agradar seu pai: Como todo latino-americano
subdesenvolvido fiz o curso de Direito, uma profissão detestável, que nunca
exerci .Pretender ser advogado, ajudante da justiça? Seu caminho foi outro,
o da resistência. Fui militante na resistência universitária e então conheci
as prisões. Devem ter sido umas vinte, pelo menos.O da resistência
intelectual, como Diretor durante vinte
anos, muitos dos quais em Paris, de Alcor, revista de cultura publicada
na Paraguai. Ou fazendo jornalismo, crítica literária, poesia, contos. Eu
comecei, também, como a maioria dos latino-americanos escrevendo poesia.
Publicado em Madrid, Biografia del ausente (1961). Em Assuncão, La
víbora de la mar, pequenos poemas muito breves, escritos em espanhol mas
com uma estrutura interna puramente guarani. Ao lê-los me dei conta que esses
pequenos poemas tinham essa estrutura que é própria do guarani, uma espécie de
trajetória dialética em que não há relação
de causa e efeito. Depois, foi a premiação de um livro de contos, em 1971,
pela Casa de las Américas, Ojo por diente do qual durante um certo tempo
não foi possível achar ume exemplar em espanhol pois a péssima edição da
Editora Monte Ávila, de Caracas, teve uma parte dela distribuída
clandestinamente e a outra atirada nos seus porões. No ano seguinte¸com o
título de Pacte de sang, o livro foi publicado na França, causando sua
prisão no Paraguai e seu exílio. Em 1984, aparece em Assunção, El séptimo
pétalo del viento. E, no exílio,
continuava Rubén Bareiro Saguier. Castigado não somente por amar a sua terra,
mas pensá-la. De Ojo por diente dirá
Augusto Roa Bastos: A aventura dos fatos
narrados se identifica com a aventura da linguagem na qual a palavra significa
uma função de vida vivida. A terra e o
homem paraguaio transcendem assim o marco localista em direção a uma visão
totalizadora de nossa América, em direção a uma visão, no mínimo totalizadora.
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