domingo, 13 de maio de 1990

Como sempre, a luta

                                              Em 1981,  quando se realizava em Paris o Colóquio Internacional sobre o conto latino-americano, num fim de tarde, tomando mate  gelado, em busca do gosto do tererê, num dos cafés do Quartier Latin, Rúben Barreiro Saguier falou sobre suas vivências de intelectual no exílio, sobre seus escritos. Eis algo do que foi dito, então. 

            Em Paris, no exílio, Rubén Barreiro Saguier é um dos muitos latino-americanos levados a enriquecer a cultura da metrópole por contingências que foram impostas a sua vontade. Saí do Paraguai porque estava me sufocando nesse meio ditatorial no qual não podia trabalhar no que me interessava. Isto acontecia em 1962 ou 1963, quando, abandonando as suas aulas de Literatura Paraguaia e Latino-americana partiu para Paris com uma pequena bolsa do governo francês. A partir de então, como professor na Universidade Francesa, foi prolongando um exílio que já se iniciara na infância. Tive que iniciar o meu primeiro exílio em Assunção, cidade da qual nunca gostei. Quando podia, voltava a minha cidade. Villeta é o seu nome. Nos meus contos a chamo de Guarni.

Durante algum tempo ainda pode ir e vir  entre seu país  e a França mas, em 1972 foi preso em Assunção onde permaneceu incomunicável por dois meses e, só a pressão internacional propiciou  a sua liberdade, iniciada no avião que o levaria, novamente, para o exílio. E no exílio permaneceu, ensinando o Guarani na Universidade de Paris. Na verdade, Rubén Bareiro Saguier esquecera há tempos o curso que havia feito para agradar  seu pai: Como todo latino-americano subdesenvolvido fiz o curso de Direito, uma profissão detestável, que nunca exerci .Pretender ser advogado, ajudante da justiça? Seu caminho foi outro, o da resistência. Fui militante na resistência universitária e então conheci as prisões. Devem ter sido umas vinte, pelo menos.O da resistência intelectual, como Diretor durante  vinte anos, muitos dos quais em Paris, de Alcor, revista de cultura publicada na Paraguai. Ou fazendo jornalismo, crítica literária, poesia, contos. Eu comecei, também, como a maioria dos latino-americanos escrevendo poesia. Publicado em Madrid, Biografia del ausente (1961). Em Assuncão, La víbora de la mar, pequenos poemas muito breves, escritos em espanhol mas com uma estrutura interna puramente guarani. Ao lê-los me dei conta que esses pequenos poemas tinham essa estrutura que é própria do guarani, uma espécie de trajetória dialética em que não  há relação de causa e efeito. Depois, foi a premiação de um livro de contos, em 1971, pela Casa de las Américas, Ojo por diente do qual durante um certo tempo não foi possível achar ume exemplar em espanhol pois a péssima edição da Editora Monte Ávila, de Caracas, teve uma parte dela distribuída clandestinamente e a outra atirada nos seus porões. No ano seguinte¸com o título de Pacte de sang, o livro foi publicado na França, causando sua prisão no Paraguai e seu exílio. Em 1984, aparece em Assunção, El séptimo pétalo del viento.  E, no exílio, continuava Rubén Bareiro Saguier. Castigado não somente por amar a sua terra, mas  pensá-la. De Ojo por diente dirá Augusto Roa Bastos: A aventura dos fatos narrados se identifica com a aventura da linguagem na qual a palavra significa uma função  de vida vivida. A terra e o homem paraguaio transcendem assim o marco localista em direção a uma visão totalizadora de nossa América, em direção a uma visão, no mínimo totalizadora. 

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