Reína
María Rodriguez nasceu em La Habana, em 1952. Autora de La gente de mi
barrio, Una casa de ánimas (inédito), Cuando una mujer no duerme,
recebeu o prêmio de poesia Casa de las Américas, em 1984, com seu livro Para
un cordero blanco. Uma pequena obra que não alcança cem páginas e em que os
poemas se constroem a partir de temas como que do cotidiano e com frases como
que só feitas de simplicidade : a espera do amado num café, o lavar o rosto na
água fria, a falta imprevista do carro que propiciaria o encontro amoroso são
rápidas cenas de um cotidiano cujos significados vão além dos simples registros
de gestos e de situações. Uma singeleza da expressão coloquial a esconder um
universo que é espelho de um ser feminino marcado pelo sua época mas,
profundamente preso, ainda, ao sentir e
ao agir convencionais.
O
amor é presença constante nesse poemário. Exprime de maneira perfeita o momento
da alma feminina que se situa entre o que sempre lhe foi dado ser e o que a
época lhe tem concedido. Assim, expressão feminina de sempre, há um acreditar
que juntos, ela e o amado, irão iluminar as sombras. Também, a certeza de que a
ausência do amado é a causa da perda das
cores no mundo (desde que não te vejo / as
coisas perderam suas cores / e não posso te dizer / quais cores atravesso).
E, ainda, a angústia da espera que faz de um minuto uma eternidade, significando, sobretudo, o medo de que o amado não chegue. Em outros
momentos, a luta entre seguir a prática antiga e ficar à espera do amado ou
obedecer anseios e ir a seu encontro.
Mas,
embora sendo, ainda, herdeira dos preconceitos ou verdades que nortearam o
relacionamento entre amantes, o eu poético incorpora o novo ritual que tudo
permite. Não consegue, porém, cumpri-lo. Constata ou se queixa dos desencontros
acontecidos no amor, duvidando se o ímã poderá tornar a ser refeito. Atribuí
-se culpas do fracasso e se desculpa por ter alimentado o irrealizável desejo:
que um simples ato amoroso fosse suficiente para obtenção do universo. E,
registra sua incapacidade de entrega – há tantas coisas ao redor e tão graves –
uma incapacidade muito grande que a leva a intuir que o futuro irá encontrá-la na
busca do outro: logo serei uma mulher madura / uma mulher te
olhando / para ver o que encontra.
Certamente
são mistérios que emergem: suas lutas interiores, sua busca das chaves do
prazer. Entre eles, grande e inexplicável, o mistério de seu próprio corpo.
Dele desconhece os mecanismos e ignora como se desfazer de si mesma para
alcançar as plenitudes com o outro. E a liberdade que os novos tempos ( talvez)
concedam à mulher não a ajudam a se
libertar de si mesma e a conduzem a uma
nova incógnita sem dúvida difícil de ser
desvendada e reveladora, também de uma insegurança: marco os dias de pílula / qume sabe o que estará me acontecendo por
dentro.
Na
clareza de seu dizer, na sinceridade das confissões, está contida a mulher que
na busca do outro e de si mesma abandonou, corajosamente, as máscaras.
Não
sem razão, poetou no último verso de Para un cordero blanco: o perigo será sempre uma forma de começar.
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