domingo, 4 de março de 1990

As (quase) novas mulheres

            Reína María Rodriguez nasceu em La Habana, em 1952. Autora de La gente de mi barrio, Una casa de ánimas (inédito), Cuando una mujer no duerme, recebeu o prêmio de poesia Casa de las Américas, em 1984, com seu livro Para un cordero blanco. Uma pequena obra que não alcança cem páginas e em que os poemas se constroem a partir de temas como que do cotidiano e com frases como que só feitas de simplicidade : a espera do amado num café, o lavar o rosto na água fria, a falta imprevista do carro que propiciaria o encontro amoroso são rápidas cenas de um cotidiano cujos significados vão além dos simples registros de gestos e de situações. Uma singeleza da expressão coloquial a esconder um universo que é espelho de um ser feminino marcado pelo sua época mas, profundamente  preso, ainda, ao sentir e ao agir convencionais.

            O amor é presença constante nesse poemário. Exprime de maneira perfeita o momento da alma feminina que se situa entre o que sempre lhe foi dado ser e o que a época lhe tem concedido. Assim, expressão feminina de sempre, há um acreditar que juntos, ela e o amado, irão iluminar as sombras. Também, a certeza de que a ausência  do amado é a causa da perda das cores no mundo  (desde que não te vejo / as coisas perderam suas cores / e não posso te dizer / quais cores atravesso). E, ainda, a angústia da espera que faz de um minuto uma eternidade,  significando, sobretudo, o medo  de que o amado não chegue. Em outros momentos, a luta entre seguir a prática antiga e ficar à espera do amado ou obedecer anseios e ir a seu encontro.


            Mas, embora sendo, ainda, herdeira dos preconceitos ou verdades que nortearam o relacionamento entre amantes, o eu poético incorpora o novo ritual que tudo permite. Não consegue, porém, cumpri-lo. Constata ou se queixa dos desencontros acontecidos no amor, duvidando se o ímã poderá tornar a ser refeito. Atribuí -se culpas do fracasso e se desculpa por ter alimentado o irrealizável desejo: que um simples ato amoroso fosse suficiente para obtenção do universo. E, registra sua incapacidade de entrega – há tantas coisas ao redor e tão graves – uma incapacidade muito grande que a leva a intuir que o futuro irá encontrá-la na busca do outro: logo serei uma mulher madura / uma mulher te olhando / para ver o que encontra.

            Certamente são mistérios que emergem: suas lutas interiores, sua busca das chaves do prazer. Entre eles, grande e inexplicável, o mistério de seu próprio corpo. Dele desconhece os mecanismos e ignora como se desfazer de si mesma para alcançar  as plenitudes com o outro.  E a liberdade que os novos tempos ( talvez) concedam à mulher não  a ajudam a se libertar de  si mesma e a conduzem a uma nova incógnita  sem dúvida difícil de ser desvendada e reveladora, também de uma insegurança: marco os dias de pílula / qume sabe o que estará me acontecendo por dentro.

            Na clareza de seu dizer, na sinceridade das confissões, está contida a mulher que na busca do outro e de si mesma abandonou, corajosamente, as máscaras.

            Não sem razão, poetou no último verso de Para un cordero blanco: o perigo será sempre uma forma de começar.

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