O
Haiti, pequeno país das Caraíbas, se oferece aos olhos do visitante como um
espaço africano encravado no Continente: montes de cerâmica empilhadas, roupas
coloridas, gritos exuberantes e alegres o conduzem para bem longe da paisagem americana, diz o jornalista
francês Marcel Niedergang.
Durante
uma boa parte de sua História, após ter se liberado da Espanha, o Haiti
preservou a sua autonomia durante as
dezesseis constituições que proibiam a qualquer estrangeiro possuir ou alugar
terras no Haiti.
Em
1915, o mesmo presidente que recusara um tratado de assistência militar com os
Estados Unidos, executou duzentos prisioneiros políticos. Foi massacrado pela
população e as tropas americanas que aguardavam nas costas do país,
desembarcaram na capital. A constituição
foi mudada de acordo com os interesses dos norte-americanos que, então,
se instalaram no Haiti.
Jacques
Roumain tinha, nessa época, oito anos de idade. Aos vinte, de retorno ao país depois dos estudos na
Europa, publica seus primeiros poemas. E, não se nega a participar da ação
política contra a ocupação norte-americana no Haiti. Será o início de um caminho
de lutas e prisões que irá terminar em agosto de 1945. Etnólogo,professor,
diplomata, romancista, ensaísta, poeta, um dos maiores vultos do Haiti, vivera
trinta e oito anos.
Publicado
pela Messidor de Paris, o romance que o tornou mundialmente conhecido, Gouverneurs
de la rosée (1946) foi reeditado em 1988. Um ano antes, a mesma editora
publicara La montagne ensorcelée que engloba seus primeiros textos em
prosa, vinte poemas entre os quais o belíssimo “Sales Nègres” e o ensaio “Les
griefs de l’homme noir”.
Escrito
em 1939, “Les griefs de l”homme noir” se constitui uma reflexão sobre o racismo
nos Estados Unidos. Racismo que Jacques Roumain baseia em situações reais e
expressões ideológicas que examina à luz de fatos e documentação bibliográfica.
Com argumentos apoiados na antropologia, na sociologia e na economia, busca não
se deixar conduzir pela emoção o quê o leva, inclusive, a dizer que a questão
moral da escravidão só interessa àqueles que descendem de escravos.
Assim
a emoção – sofrimento de gerações – fluirá, profunda e imensa, em seus
poemas. O que não impedirá o poeta de neles
proclamar verdades e palavras de ordem: Nós não aceitamos mais as prédicas a golpes de chicote e o trabalho na
colheita do algodão, da cana de açúcar, do café, do amendoim.
Jacques
Romain, poeta negro, intelectual negro, não se enclausura, porém, numa luta
restrita à tonalidade de cor. Alonga seu olhar para as demais minorias
massacradas e deseja, e por isso lutar no desejo de que a justiça seja para
todos os injustiçados: porque nós escolhemos
o nosso dia e hei-nos de pé.

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