Elaborando-se
sob o signo das transformações, a Literatura Latino-americana se encontra,
hoje, mais do que nunca, num momento de auto-afirmação. Auto-afirmação que se
revela quando o emissor adota uma posição de ruptura ideológica com os valores
tradicionais da classe dominante e assume seu povo, suas vozes, seu destino:
quando o texto se constitui um testemunho formal dessa ruptura ao deixar de
repetir a linguagem dos colonizadores para ser um conjunto de significações
desse povo mestiço, dessas vozes sussurrantes que ele, talvez, ajude a mudar.
Se
o emissor escolhe a ruptura, se o texto é testemunho dessa ruptura, se o receptor
procura razões de fé na sua ficção, a crítica literária não deveria se afastar
desse testemunho, dessa ruptura, dessa busca, mas, ali encontrar sua gênese.
Sendo
a Literatura Latino-Americana dúvida,
indagação, denúncia, grito de alerta, a busca de seu sentido é, também, a busca
desse mundo que existe a seu redor. Um mundo onde tudo – direitos, obrigações,
propriedades – são distribuídos de acordo com o desejo de alguns; onde é
evidente a possibilidade que existe para que um homem ou um grupo de homens
realize a sua vontade ainda que em detrimento dos demais.
Seja
a discussão e repúdio da parte dos escritores, seja a busca de soluções da
parte dos sociólogos, ambas contém o desejo comum de conscientizar. Sobre as
lutas e fracassos,a fome, a violência, o desemprego, a opressão,a morte. Sobre
o domínio de alguns sobre a massa de deserdados que constitui a população
latino-americana.
Estrutura
social que pode ser estudada, cientificamente, a partir de sua estrutura
econômica, ideológica e jurídico-social. Recreada, porém, num universo
romanesco, essa estrutura social que repete a estrutura d e uma sociedade real,
poderá ser passível de uma análise cuja base seja a mesma teoria científica
usada para estudar a sociedade real. Então, será possível perceber que, muitas
vezes, as “trouvailles”estilísticas, os avanços formais do romance
latino-americano contemporâneo não impedem um mimetismo ao reproduzirem as
estruturas de uma sociedade concreta.
Disse
Grivel que o romance é uma das vozes da classe dominante se o escritor se
origina dessa classe e assume suas intenções. Utilizando, porém, o romance como
instrumento, pode fazer dele uma arma, uma denúncia contra essa classe, embora
ela seja a sua.
Sem
dúvida, um ponto de partida para reflexões
que alcancem, também, o contexto e que torne possível a generalização de outro
sentido que não seja aquele da classe dominante.

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