Quando
voltava do exílio, o avião fez escala no Rio de Janeiro e Antonio Di Benedetto
foi fazer algo muito simples: comprar café. O suficiente para ser roubado de
todos os dólares que trazia, fruto dos direitos autorais que recebera. Pouco
depois, ele morria sem tempo de realizar o sonho de ter um de seus livros
traduzido para o português.
Nascido
no dia 2 de novembro de 1922 em Mendonza, Argentina, é autor de uma obra densa
e de rara qualidade. Após muitos anos de
jornalismo, se inicia na Literatura, ao trinta anos, com um livro de contos, Mundo
animal. Seguem-lhe El cariño de los tontos e Declinación y ángel
e os romances El pentágono, El silencioso e Zama sua obra
mais conhecida.
Zama
é a biografia fictícia de um personagem histórico, Don Diego de Zama,
funcionário do Vice-reinado do Prata. Em Assunção, no ano de 1790, incapaz de se opor a seu destino ele
espera. Espera um barco, uma carta de sua mulher Marta, espera a chegada de uma
mulher loira que lhe povoa os sonhos, espera o decreto real que o levará de
volta a Buenos Aires. Enquanto isso, na pequena cidade de ruas empoeiradas, de
costumes restritos, Don Diego sufoca na tremenda solidão que o seu caráter lhe
impõe.
O
ar e a luz lhe chegam, então, das breves visões femininas que o acaso lhe
permite: uma pequena mão enluvada
pousada na janela de uma carruagem; um olhar provocador e fugidio; a
nudez feminina entrevista através da folhagem no banho do rio.
Um
olhar mais demorado, como casual, num jantar protocolar, o predispõe à
conquista e se lança ao assédio de Luciana, mulher de Honorio Piñares de
Luenga. Olhares, visitas, efêmeras carícias e repetidas promessas, jamais
cumpridas o ludibriam e esgotam.
Protegida
pelo casamento, pela criadagem, pelas normas vigentes, a mulher branca é
inatingível. Fáceis, as outras, as de corpo moreno, as índias, as negras, as
mulatas. Mas branca e espanhola há de ser, ele repete.
No
entanto, o amor esperado não se cumpre. As mulheres que entrevê e procura, se
perdem. Luciana parte para a Espanha e Don Diego sucumbe ao próprio chamado. A
mulher que o recebe não é branca nem espanhola. É parte desse mundo imenso que
está a ser refeito, ordenado pelos que chegaram ao Continente e tudo podem, de tudo se apossam e que acreditam
tudo saber.
A
espera do amor, como as demais que atormentam Zama, foi fraudada. Prisioneiro
da vida, impotente diante dos fados ele o seria em qualquer lugar do planeta.
Mas, para Antonio Di Benedetto, o seu destino só poderia ter por cenário a
América. E, embora nem o Paraguai, nem Assunção sejam citados no romance, é
deles que se trata. E do Continente. Porque os elementos externos
caracterizadores – a orografia, a hidrografia, a fauna, a flora, a linguagem,
as crenças, a arquitetura – são menos sugestivos na construção da verdade
romanesca do que as imagens desse hierárquico mundo colonial ibérico, pejado de
instituições e de preconceitos.
E,
verdadeiras devem ser as palavras de Antonio Di Benedetto quando uma vez disse:
Diego de Zama é o drama de todos nós que passamos a vida esperando e que nos
fazemos vítima da espera. A essas
vítimas ele dedicou o romance. Isto é, para nós, os filhos do
Continente.

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