No
início de 1987, morria na cidade do México onde vivia exilada, a poetisa Diana
Morán. Deixara inédita uma tese de doutoramento, apresentada em 1979 no Colégio
de México, que foi publicada pela Universidade Autônoma Metropolitana, após sua
morte: Cien Años de soledad, novela
de la desmitificación é um trabalho crítico ente os melhores que trataram da
obra de Gabriel García Márques não somente pela firme e rigorosa análise como
por ter se afastado de caminhos críticos já trilhados.
O
estudo do que a autora chama de imagens primárias – nascimento, desenvolvimento
e morte – é o ponto de partida de sua pesquisa que enfocará o tempo, o espaço,
os personagens, elementos integradores do romance. O enclausuramento dos
personagens e o isolamento de Macondo levaram a pesquisadora à constatação de
que no romance está, implicitamente, contida a condenação do individualismo e
da incomunicação, causadoras do desgaste progressivo que aniquila a família
Buendía e o espaço em que vivem.
Desde muito jovem, como profissional e como
cidadã, Diana Morán comprometeu-se com o destino de seu povo. Um compromisso
que lhe norteou os atos ao longos dos anos, fazendo da poetisa o reverso das
figuras que analisou na ficção e lhe
conferindo um lugar de destaque no Continente.
Professora,
poetisa, figura proeminente nos movimentos nacionais e socialistas panamenhos e
latino-americanos, nunca esteve à margem do que se passava a seu redor. Sua
poesia amorosa como aquela de Pablo Neruda, esteve sempre entrelaçada a uma
preocupação social .
Em
“ Eva difinida”, seu primeiro poema longo, publicado em 1957, se misturam as
mais perfeitas sensações femininas e um ideário de lutas. Compõe-se de dez
poemas de estruturas diversas que introduzem o espanhol panamenho numa
expressão lírica em que a mulher se nutre de um amor-seiva que pacifica e alimenta: “de tua silvestre pele de
hortelã-pimenta / brota a aurora da pátria pura” (poema II); “Ah! Simbiose de
pátria e beijo” (poema VI); “Início de minha luz foram tuas mãos / tuas amplas
mãos...latitude de pátria”( poema IX). Mesclas de sensações e sonhos aninhados
num ser feminino que não se alheia na felicidade da mulher desabrochada mas
vive também para a esperança de chegar ao tempo da farinha comum/ da terra prometida ( poema IV).
Diana
Morán viveu com os olhos fixos num horizonte que no Continente é, muitas vezes, distante e noutras tantas inatingível,
para conseguir apenas o direito de
retornar à sua terra. Após dezoito anos de exílio, morta, volta para nela ser
enterrada. Concessão, talvez, pequena e pouca para quem legou ao Panamá um
momento ímpar da poesia latino-americana que se inscreve, belíssima, no amor e
no construir do Continente.
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