domingo, 16 de outubro de 1988

Diana Morán: entrelaçar de amores

            No início de 1987, morria na cidade do México onde vivia exilada, a poetisa Diana Morán. Deixara inédita uma tese de doutoramento, apresentada em 1979 no Colégio de México, que foi publicada pela Universidade Autônoma Metropolitana, após sua morte: Cien Años de soledad, novela de la desmitificación é um trabalho crítico ente os melhores que trataram da obra de Gabriel García Márques não somente pela firme e rigorosa análise como por ter se afastado de caminhos críticos já trilhados.

            O estudo do que a autora chama de imagens primárias – nascimento, desenvolvimento e morte – é o ponto de partida de sua pesquisa que enfocará o tempo, o espaço, os personagens, elementos integradores do romance. O enclausuramento dos personagens e o isolamento de Macondo levaram a pesquisadora à constatação de que no romance está, implicitamente, contida a condenação do individualismo e da incomunicação, causadoras do desgaste progressivo que aniquila a família Buendía e o espaço em que vivem.

             Desde muito jovem, como profissional e como cidadã, Diana Morán comprometeu-se com o destino de seu povo. Um compromisso que lhe norteou os atos ao longos dos anos, fazendo da poetisa o reverso das figuras que analisou na ficção   e lhe conferindo um lugar de destaque no Continente.

            Professora, poetisa, figura proeminente nos movimentos nacionais e socialistas panamenhos e latino-americanos, nunca esteve à margem do que se passava a seu redor. Sua poesia amorosa como aquela de Pablo Neruda, esteve sempre entrelaçada a uma preocupação social .

            Em “ Eva difinida”, seu primeiro poema longo, publicado em 1957, se misturam as mais perfeitas sensações femininas e um ideário de lutas. Compõe-se de dez poemas de estruturas diversas que introduzem o espanhol panamenho numa expressão lírica em que a mulher se nutre de um amor-seiva que pacifica  e alimenta: “de tua silvestre pele de hortelã-pimenta / brota a aurora da pátria pura” (poema II); “Ah! Simbiose de pátria e beijo” (poema VI); “Início de minha luz foram tuas mãos / tuas amplas mãos...latitude de pátria”( poema IX). Mesclas de sensações e sonhos aninhados num ser feminino que não se alheia na felicidade da mulher desabrochada mas vive também para a esperança de chegar ao tempo da farinha comum/ da terra prometida ( poema IV).

            Diana Morán viveu com os olhos fixos num horizonte que no Continente é, muitas  vezes, distante e noutras tantas inatingível,  para conseguir apenas o direito de retornar à sua terra. Após dezoito anos de exílio, morta, volta para nela ser enterrada. Concessão, talvez, pequena e pouca para quem legou ao Panamá um momento ímpar da poesia latino-americana que se inscreve, belíssima, no amor e no construir do Continente.

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