Sendo
a crítica, num sentido amplo, a mediação entre o texto e a leitura e sendo a
Literatura Latino-americana a expressão literária de povos diferentes, ligados
estreitamente, por numerosos paralelismos, a crítica latino-americana poderia
ser considerada como uma aproximação às obras latino-americanas que fosse,
antes de mais nada, coerente com o texto estudado e vinculada ao contexto no
qual a obra teve a sua gênese. O quê pode ser perfeitamente factível desde que
sejam levados em conta os obstáculos que impedem, também nessa área, as
atividades dos povos latino-americanos de se desenvolverem de forma autêntica e
absoluta.
Na
verdade, os obstáculos para o estudo da Literatura Latino-americana tem a sua
origem num estado de coisas que é comum a toda América Latina: a existência de
um certo espírito que aportou aqui nos tempos da Colônia e permaneceu sem
nuanças, comandando, muitas vezes, as atividades culturais. Assim, os países
latino-americanos voltam-se para a metrópole – qualquer que seja ela - e não pensam em se comunicar com os países
que, no mesmo Continente, possuem realidades semelhantes. Nem sempre ( para não
dizer raramente) aquém e além da barreira lingüística ou de fronteira existe um conhecimento do que se
passa do outro lado. Embora existam as chamadas ilhas de desenvolvimento que se
querem iguais aos países desenvolvidos, como a própria expressão sugere, estas
ilhas representam fenômenos isolados dentro de um vasto contexto sub-desenvolvido.
Assim, esse espírito de Colônia faz com que as dificuldades para o estudo da
Literatura Latino-americana comecem já
no que poderíamos chamar de infra-estrutura: as condições de trabalho. As
bibliotecas, mesmo as universitárias, não possuem o acervo mais comezinho: o
texto (sequer os clássicos), os textos críticos antigos ou contemporâneos, os
periódicos. Quanto ao empréstimo inter-bibliotecas sejam elas
dentro do próprio país ou com as
bibliotecas de outros países, no
momento, significa, apenas, uma utopia. As livrarias, por sua vez, não dispõem
de acervo relacionado aos países da América; tampouco possibilitam uma
aquisição imediata de material importado pois embora possível, essa aquisição é sempre regida por entraves ( que diríamos
burocráticos) e assim, de uma lentidão exasperante. Como as informações
editoriais são insuficientes (quando existem), só resta continuar a ler e a estudar os autores que, por uma razão ou
outra, são “lançados” pelos países cuja estrutura editorial seja independente.
Os outros, aqueles autores que por determinadas causas não são ou não devem ser
comerciáveis ou, ainda, cujas obras aparecem em edições limitadas ou em
periódicos de vida transitória, esses, dificilmente ou ocasionalmente serão
conhecidos já não diríamos do grande público mas dos próprios estudiosos.
O
desconhecimento do que se realiza nos demais países latino-americanos no que se
refere aos textos de criação e/ou de crítica, a dificuldade, pelo isolamento em
que esses países se mantém para estabelecer intercâmbio duradouro entre si, a
facilidade em receber material bibliográfico dos países industrializados,
assim como auxílios que
possibilitam uma especialização nesses
países e um contato direto com sua cultura faz com que a metodologia, também na área de Letras, seja
importada dos países industrializados que já tem resolvidos os seus problemas
fundamentais. O que significa, ainda e mais uma vez, prestar-se à dependência de
esquemas culturais alienígenas e alienantes, uma vez mais, prestar-se à
auto-colonização. Uma opção que diante dos textos latino-americanos, passa a se
constituir não só, apenas uma atividade lúdica ( seria a mediação certa para o
texto de combate, para o texto de denúncia?) mas, sobretudo passividade diante
de um sistema de submissão cultural que a realidade do Continente americano não
mais justifica.
Para
fugir à passividade e à submissão, seria necessário uma reflexão sobre a posição humanitária do escritor
latino-americano e sobre o contextual
que muitas vezes condiciona a gênese do texto; uma reflexão sobre a maneira de
formular uma aproximação da Literatura Latino-americana que seja coerente com o
nosso meio, nossas necessidades, nossa forma especial de desenvolvimento,
Reflexões
que nos levariam a poder falar de nossos textos com as nossas próprias
palavras.
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