O
uruguaio Mario Benedetti, além de contista (Cuentos Completos), romancista (La trégua), poeta (Inventário),
crítico literário (Literatura Uruguaya
del siglo XX ), ensaísta (El país de
la cola de paja, El recurso del supremo patriarca) é um
dos autores latino-americanos de leitura imprescindível.
Em
El recurso del supremo patriarca,
publicado no México, em 1979, o primeiro artigo trata, obviamente dos três
romances: El recurso del método de
Alejo Carpentier, Yo el Supremo de Augusto Roa Bastos e El otoño del Patriarca de Gabriel
García Márquez. Três romances cujo eixo narrativo gira em torno da figura do
ditador. E o título do livro de Mario Benedetti não se constitui, apenas, uma
combinação irônica, uma síntese metafórica porque nos trabalhos que compõem a
obra se trata, também das relações entre os povos sub-desenvolvidos e aqueles que se apropriam
do poder.
Nos
outros onze trabalhos que compõem o livro são discutidas questões muitíssimos oportunas: a ausência,
nos países sub-desenvolvidos, na maior parte das vezes, de uma elite cultural
cuja visão seja, simplesmente, latino-americana; as relações escritor/crítico,
escritor/aparato publicitário; as
condições de produção, a neutralização do intelectual latino-americano,
atraído pelas fundações norte-americanas. O trabalho mais importante é, sem
dúvida, “O escritor e a crítica no contexto do sub-desenvolvimento”.
Como
precisa o título, as considerações nele desenvolvidas não versam sobre a
Crítica Literária em geral, mas sobre a Crítica Literária da América Latina onde não existe – seja para
propulsar, seja para conter – um só campo alheio ao político, ao social, ao
econômico e às lutas pela liberdade. O quê significa, para Mario Benedetti, não
ser possível abordar a Crítica Literária separadamente da situação de
dependência dos países latino-americanos que desenvolvem a cultura da dominação
na qual se inserem, por um lado, o escritor colonial ( produtor da Literatura
de evasão) e o crítico colonizado ( por exemplo, pela lingüística, pelo
estruturalismo) e da qual são marginalizados ( pelo exílio ou pela morte)
aqueles para quem o “real aparatoso” de
que fala Jorge Enrique Adoum, não
somente pode, mas deve ser testemunhado.
E
Mario Benedetti constata que talvez possa parecer curioso o fato de que, em
meio às condições que são, principalmente, adversas para o trabalho intelectual
– a opressão na maior parte dos países latino-americanos ou a dramática
experiência do exílio – venha a surgir uma crítica onde se planteia a dimensão de um ponto de vista basicamente
latino-americano e cuja tarefa prioritária vai ser a procura de expressão
latino-americana e a interpretação de sua realidade. E, ainda, que essa crítica
somente possa se expressar em poucos países que permitem a discussão uma vez
que na maior parte do Continente reina uma zona de silêncio e
obscurantismo no qual a
crítica vai para a cadeia ou para o exílio junto com o poeta e com o
romancista.
Inegavelmente,
é o testemunho de uma experiência vivida
e compartilhada nas andanças do exílio. Mario Benedetti foi professor de
Literatura na Universidade da República do Uruguai e crítico literário em
Montevidéu até se ver obrigado, como tantos, a abandonar o país. Razão, entre
outras, que lhe permite constatar a mudança sofrida pela maior parte dos intelectuais: aferrados até há alguns
anos atrás a um frágil conceito de liberdade burguesa, atualmente, se não
assumiram, pelo menos, passaram a entender a liberdade revolucionária.

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