sexta-feira, 14 de agosto de 1987

Caminhos do Continente

            Digamos que, no princípio, tudo devesse ser compartilhado; que o conhecimento, como um bem incomensurável, se constituísse de algo, realmente, a ser transmitido: uma aula, o espaço aberto aos que dela necessitam, um texto acessível a todo e qualquer leitor. Utopia que somente poderia ser realizada se a classe que detém, também, o saber – e que já possui muito além daquilo que necessita – aquiescesse em proporcionar condições às outras para que pudessem resolver os seus problemas. Fossem eles elementares problemas de sobrevivência ou algo tão simples, aparentemente tão sem importância, como ter condições reais de escolher suas leituras.

            Uma responsabilidade que desde sempre vem sendo declinada pelas elites, embora lhes tenha sido atribuída, já no século XVIII por Voltaire e, mais tarde, por aqueles que acreditam ser imprescindível ampliar o seu papel na sociedade  e tornar-se participante do processo das transformações. Isso por lhes ser difícil conviver com as dicotomias de um Continente onde à maior parte da população tudo é negado e à outra, tudo permitido. Lei única a reger o cotidiano e o futuro dos vários universos do Continente.

            Universos que precisam se conhecer e se mensurar e se unir, para fortalecidos, mudar o seu  destino que vem sendo selado em outros hemisférios e por aqueles que somente querem deles usufruir. Daí  ser a sua imagem tantas vezes negada, esquecida, repudiada. Daí os preconceitos e leis desintegrarem o espaço de todos, separarem povos irmãos que tantas misérias e grandezas têm em comum, para forçá-los a se espelhar ( e, assim, se anular) em outra (prejudiciais e estranhas) realidades.

            Assim, falar dos espaços e destinos desse Continente  é tentar refletir e, quem sabe, levar à reflexão. Dizer das palavras nele geradas é desenhar caminhos com à paixão, o quê, talvez,  induza a realizá-los, a percorrê-los.

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