Momentos
vividos intensamente. Relatos de viagens, prólogos, discursos, poemas em prosa,
testemunho sobre homens de seu tempo, reflexões, cartas. Entre 1922 e 1973,
Pablo Neruda vai completando, desalinhavadamente ( como ele diz), suas
intermitentes lembranças que foram recolhidas por sua mulher, Matilde Urrutia e
por Miguel Otero Silva, escritor venezuelano
e publicadas em Para nacer he
nacido (Seix Barral, Barcelona, 1978).
As
cartas, como os demais textos do livro, em número de quatro se originaram de
diferentes razões e foram escritas em diferentes épocas: uma, em 1958, duas no
ano seguinte e a última, em 1973.
Irônica,
incisiva, a carta que escreveu ao Presidente do Chile, Don Carlos Ibañez del
Campo, no momento em que lhe era negado, como também a outros chilenos, o
direito de voto. Um direito, no seu dizer, que possuíam os piores delinqüentes
do país ou o seus mais hábeis exploradores. Argumenta sobre o absurdo de ter
sido recebido e honrado por tantos países europeus, merecido prêmios
internacionais, ter os seus livros
traduzidos em muitíssimos idiomas, fazendo, com isso, brilhar o nome de seu
país e não ter o direito de votar para escolher seus dirigentes.
Ao
Presidente do México, Dias Ordaz, começa a sua carta dizendo : Me escriben
que José Revueltas, el
novelista, está preso em su patria, México. Fala, com muito carinho e admiração sobre o compositor Silvestre Revueltas e a atriz
Rosaura Revueltas irmãos do romancista, autor de uma vasta obra caracterizada
pelo realismo crítico e a luta pela justiça social. E pede por sua liberdade
porque, sem dúvida, é inocente mas, sobretudo porque lo queremos muchísimo.
Em
1959, escreve ao Presidente da Academia Estadunidense de Artes e Letras para
agradecer a honra de ter sido eleito sócio, compreendendo que a homenagem se estende, também a seus
conterrâneos. No entanto, explica estar
unido aos intelectuais norte-americanos contra a guerra do Vietnã e que nessas
condições não poderia aceitar a distinção que lhe é outorgada das mãos de um
embaixador dos Estados Unidos, tampouco
em lugares que representem o governo.
No
dia 31 de agosto de 1973, vinte e quatro
dias antes de sua morte, escreve uma carta de adesão ao General Carlos Prats
que renunciou nas vésperas do golpe militar
contra Salvador Allende. Nela, fala do “empenho cego” daqueles que,
mesmo a custa de uma guerra fratricida não cultivam outro interesse que o da
conservação de seus próprios privilégios.
São
cartas que possuem em comum o amor que Pablo Neruda sempre expressou pelos
seres humanos, pela natureza, pelos objetos. E, se constituem um valioso
material para auxiliar na compreensão do homem e do poeta. Nelas, Pablo Neruda
reafirma os conceitos e posições ideológicas que nortearam a sua vida cheia de
sonhos sobre o porvir do homem latino-americano e da certeza sobre a função da
poesia na construção do Continente.


