Bem aventurados os revolucionários que não
presenciam o triunfo da Revolução.
Nicolás Gómez Dávila.
Na
Introdução ao livro Poesia (1945-1990), de Idea Vilariño, Luiz Gregorich
lembra não ser outorgar maior densidade e unidade ao texto, suprimir alguns poemas ou mudar-lhes
a ordem desse volume que organizou e do qual fazem parte os poemas anteriores
ao primeiro livro de Idea Vilariño e os que foram publicados em La
suplicante (1947), Cielo cielo (1947), Paraíso perdido (1949), Por aire sucio(1951,
Nocturnos (1955), Poemas de amor (1957), Pobre Mundo
(1966) e No (1989).
necessário deter-se na sua trajetória literária pois qualquer estudo sobre o panorama histórico da Literatura Uruguaia lhe reconhece um lugar privilegiado, nem na sua longa vida docente e nem em seus trabalhos de pesquisa sobre o tango ou sobre os ritmos poéticos. Tampouco nas datas em que foram escritos os poemas o que explica, então, ele ter se permitido, no desejo de outorgar maior densidade e unidade ao texto, suprimir alguns poemas ou mudar-lhes a ordem desse volume que organizou e do qual fazem parte os poemas anteriores ao primeiro livro de Idea Vilariño e os que foram publicados em La suplicante (1947), Cielo cielo (1947), Paraíso perdido (1949), Por aire sucio(1951, Nocturnos (1955), Poemas de amor (1957), Pobre Mundo (1966) e No (1989).
Pobre mundo foi publicado, como seus
livros anteriores, pela Banda Oriental e doze anos depois, em 1988, pela Arca
editoras, de Montevidéu. No volume organizado por Luis Gregorich, publicado em
1994, pela Cal y Canto, dele fazem parte vinte e seis poemas, agrupados em duas
partes. Na primeira, denominador comum de todos os poemas de Idea Vilariño, o
desconsolo, advindo de sua relação difícil com o mundo, cujo transitório – um
perfume (áspero olor a pino), um som
(la voz clara lejana / de um pájaro),
uma silhueta (una niña) – a machuca,
a amedronta. Na segunda parte, inquietações que não constavam de seu universo
lírico: fome na Índia e no Brasil, o medo dos que vivem em Almeria, pequena
cidade espanhola, da bomba H, estar perdida no mar, a tortura, os folhetins que
documentam as mortes dos guerrilheiros na Bolívia. Inquietações, certamente,
circunstanciais se não fossem próprias desse pobre mundo, anunciado no título
do livro e do primeiro poema que prevê – será desfeito, voará em pedaços – o
seu fim.
Entre esses poemas, “Digo que no
murió” foi escrito sob o signo da dor quando da morte de Che Guevara, em
outubro de 1967. O primeiro verso repete o título, digo que não morreu e o segundo o reafirma: não acredito. Os que seguem, procuram razões: não permitiram que o
irmão o visse, o deram por morto muitas vezes, tantas foram as contradições e,
sobretudo, ele não iria se deixar cercar na clareira de um vale e ficar ali até
que a metralhadora lhe quebrasse as pernas. E principalmente, porque ele ainda
tinha muito o que fazer na América Latina. E, outra vez, as negativas, refúgio
ineficaz diante do fato inegável: embora haja luto em toda a América Latina,
ainda que o chore Cuba e que o próprio Fidel Castro o afirme, ela não vai
acreditar. E imagina que algum dia irão dizer que está no Brasil ou na Colômbia
ou na Venezuela para ajudar a todos. Convicção que se desfaz, no entanto, em
face a evidência da evidência fotográfica, diante da qual não há consolo. Então
se ilude, acreditando na memória dos homens. Que eles não se esqueçam do rosto,
da mão de quem o vendeu, do nome desse tenente que o matou.
Se nos seus primeiros poemas Idea Vilariño
possuía uma expressão hermética, como diz Mario Benedetti no artigo sobre ela,
publicado em Literatura uruguaya siglo XX, mostrando um poeta que gira esmeradamente ao redor de suas
angústias, neste poema, “Digo que no murió”,ela se volta para si mesma
porém num sofrimento que lhe é adjudicado e que ela expressa sem reservas, não
se furtando à dúvidas mas querendo convencer de uma verdade na qual ela mesma
ão pode crer. E o faz quase em prosa, eliminando sinais de pontuação, usando
duas comparações e uns poucos adjetivos e, principalmente repetindo palavras e
expressões para elaborar uma comovedora expressão poética, marcada, sobretudo,
pela simplicidade.
Trinta e sete versos compõem o poema. Breves,
livres das amarras de pontuação, completando-se em enjambements que enfatizam a
expressão do verso seguinte. As comparações têm como primeiro elemento o Che, belo como um raio numa delas e, na
outra, a sua ação: incendiando a América, como
um raio de amor. Quanto aos
adjetivos, além de hermoso (belo), a
qualificar o Che, os demais se referem à foto que lhe fizeram, já morto,
qualificada por Idea Vilariño de atroz
e à bota que assinalava seus ferimentos, suja
bota e norte-americana e ao coração, mais
sujo que essa bota”, do tal
tenente Prado.
O que, todavia, aprofunda o lirismo do poema são
os pleonasmos. Substantivo, conjunção, verbos se repetem para dizer dos atos do
Che. Principalmente, para falar da desolação que a sua perda causou: aquela bota, como partia a alma aquela bota.
Uma desolação que procura consolo num ato futuro: lembrar seu carrasco quando chegue, quando soe a hora.
E,
pleonástica, essa idéia / sentimento, negação que se reitera: : Yo no lo creo,No hay que creerlo, Yo no voy a creerlo,No creo que murió, no puedo
creerlo, Y no voy a creerlo. Como
se a força do desejo tivesse o poder de exorcizar os males.
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