Porém,
nos cinco anos que se passaram, o forte Coligny, embrião da França Antártica no
Brasil, foi palco de injustiças, repressões, intrigas estéreis, discussões
tidas por transcendentais, desânimos, dissidências, na busca insensata de
repetir, nos trópicos, a Europa. Colombe, que da ilha se ausentava para, em
terra firme, viver entre os índios, nas vezes em que retornou, se mostrava,
entre os brancos, a única a conservar uma
radiosa saúde, tirada das águas claras da montanha, da sombra delicada da
floresta e dos frutos que ela colhia nas árvores e, desolada, percebia o
que os homens haviam feito da pequena
ilha solitária e vulnerável: dois meses depois do desembarque, se tornara
irreconhecível. Centenas e centenas de coqueiros haviam sido cortados e reinava
o barulho dos enxadões, das serras e das algaravias dos trabalhos. Depois,
também os cedros foram abatidos e as taquaras e os juncos e o relevo da ilha
passara a ser feito de aterros e de muros em construção. E, também se dá conta
que a ilha, minúscula e brutalmente
povoada, também, era dominada pela violência e pelo ódio e, assim,
destruída. Na ousadia de quebrar normas estritas, escolhe viver entre os
índios, sem ignorar que não lhe será permitido voltar atrás mas, ainda assim,
foge para terra firme.Correndo entre as flores da floresta, seu corpo aguerrido e acariciado de pinturas
marciais, jovem e tenso como as folhas turgentes das seringueiras, ela se
sentia na encruzilhada de todas as forças e de todas as doçuras, de todas as
firmezas e de todas as ternuras.
Forte e sábia o suficiente para recusar, quando Just lhe pede para
voltar à ilha que, de longe ela via destroçada na baía que, em suas
cores, resplandecia de majestade e de paz.
Como
um canto de esperança termina o romance de Jean-Christophe Rufin, Rouge
Brésil que a Gallimard de Paris publicou no ano de 2001 e que foi laureado
com o PrêmioGoncourt: Colombe e Just, já de posse dos segredos – o pai já não
mais existia e assim cessariam de buscá-lo, eles não eram irmãos – que lhes
turvava a vida e os aprisionavam num parentesco inexistente, floresceram para a
vida adulta livre de peias. Negando-se às lutas, às intrigas, às violências, às
ambições dos que tinham a certeza de serem civilizados, escolhem a felicidade
no seio da floresta e na vida entre os índios.
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