Lope de Aguirre nasceu num
vilarejo espanhol em 1508. De seu tio Julián ouvia contar do Novo Mundo que
surgia e, logo, todos falavam dessa imensidão, de pronto, entreaberta pelas
três naus espanholas.
Havia passado dos vinte anos
quando, numa balsa carregada de melões e marmelos desceu o Guadalquivir para
chegar a Sevilha e daí se embarcar para o Novo Mundo.
Filho mais novo, seria
sempre na sua terra “o segundo”. E o Novo Mundo luzia nas palavras de seus
próximos o induzindo a partir. 0 confessor da família, na crença de que o
espanhol é um povo escolhido por Deus para preservar a sua verdade, recebendo
dele a missão de cristianizar esses milhões de índios bárbaros; o tio, no sonho
de aventuras e proezas, desse "elixir branco", provedor da eterna
juventude, das virgens cor de canela correndo nuas pelas praias ao
encontro dos conquistadores”; o padrinho, dono de moinhos, acreditando
nesses espaços sem fim para semear e no trabalho dos índios destinados aos
espanhóis, nesse ouro encontrado sem esforço; a mulher que o amava, prevendo
para ele a imortalidade da fama.
E parte Lope de Aguirre numa
velha nau, no mês de maio de 1534. Eram duzentos a bordo, mais as ovelhas, os
porcos, mais o azeite e o vinho.
Poucos eram os que conheciam
o mar. Muitas, foram as agruras que passaram porque o espaço de cada um, mal
dava para dormir ou rezar; porque a água era escassa; sobretudo, porque o
arrependimento de ter embarcado era grande.
Mas, os sonhos de riquezas e
de glórias eram maiores e puderam, os tripulantes e Lope de Aguirre, vencer a
travessia.
E, chegou o momento em que o
céu ficou transparente. Bandos de pássaros apareceram e, longe, aproximando-se
aos poucos, a silhueta das palmeiras e das rochas.
Haviam chegado. A fantasia,
a glória, a riqueza, a imposição da fé - razões dos outros - se diluíram, no
entanto, diante do destino que aguardava Lope de Aguirre.
Príncipe da liberdade o
chamou Miguel Otero Silva, um dos mais importantes escritores da Venezuela,
hoje. No seu belo romance Lope de
Aguirre, príncipe de la libertad que a Seix Barral de Barcelona publicou em
fevereiro de 1979 torna verdadeira a profecia de Juanita Garibay. Embora o
amando, ela lhe havia dito: Vai para as
Índias. Teu nome será mencionado
muito tempo depois da vida de teus netos.

