Um
dos mais lindos livros da Literatura contemporânea foi publicado pela Editora
Tchê de Porto Alegre, no ano passado: O inglês dos ossos. Um verdadeiro
ato de coragem da Editora gaúcha que, se afastando da trilha conhecida ( a que
refaz o mesmo caminho das editoras que atuam nos países irradiadores de
cultura) propõe ao leitor brasileiro uma obra de excelente qualidade.
Qualidade no
que se refere ao fazer literário (O inglês dos ossos é uma obra perfeita) e no
queobra prima pela
complexidade interior do romance, a
cor local, as pinceladas de costumes, a saborosa linguagem rural, o hábil tecido de
circunstâncias e acontecimentos, a serviço da fina observação do despertar do
amor.se refere às imagens do Continente que oferece.Publicada em 1924, até agora não tem merecido, como as demais obras de Benito Lynch, apreciações críticas minuciosas, embora não lhe faltem definitivos louvores como aqueles contidos nas palavras de Anderson Imbert:
A imagem do
Continente, certamente, é dada por essa cor local, pelas pinceladas de costumes
e pela linguagem rural, assinaladas pelo crítico argentino. Porém, mais sutil e não por isso menos profunda, a
imagem do Continente que se desprende dos personagens- eixos e das relações que
entre eles se estabelecem.
Balbina,
personagem luminosa, símbolo puro da vida
agreste, deixa-se envolver pelo sentimento que pressente no inglês, cujos olhos azuis lhe diziam tantas coisas
boas e formulavam tantas promessas na sua linguagem sem voz e sem palavras.
As palavras, até certo momento desnecessárias, terão razão de ser no momento
crucial da separação. No monólogo que então advém, fica bem claro o antagonismo
da visão de mundo de um e do outro.
Desesperada
com a partida do inglês, Balbina se refugia no seu quarto e procura entender o
abandono a que foi condenada. Sem forças, atirada na cama, tenta achar
argumentos, soluções: mas se ela tinha pedido tanto que ele não partisse...mas
não se tratava de uma ilusão tola que se fizera, ele havia deixado muito claro
que gostava dela...mas ele lhe havia dito que se pudesse evitar nunca a
deixaria sofrer... mas, por que não dizia, simplesmente a seu patrão
que ia ficar um pouco mais... mas, por acaso não tinha dinheiro suficiente para
descansar onde bem lhe aprouvesse...
James Gray, o
universitário inglês, continua a trabalhar. Sob o sol e o vento, raspa sem
vontade, uma velha caveira e pensa na conversa que tivera com a mãe de Balbina
que o recriminava por não a ter desenganado. Mim não promete nunca nada, havia respondido. Porém, o que não
respondia a si mesmo era como evitar o sofrimento da moça, porque embora a
solução estivesse nas suas mãos, ele não podia ceder. Seu desejo era trabalhar pela Humanidade num
compromisso moral contraído consigo mesmo. Seu destino, o de perfazer um longo
caminho de progresso escolhido de antemão e marcado pelo cálculo. E, como homem
prático e sério tinha recorrido ao sistema mais prático e mais sério também: o
da verdade inconteste. A vítima assim não padece dúvidas. Ou se resigna ou
morre de dor.
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