Só
uns poucos poemas formam o último livro de Teobaldo Noriega. Anti-retóricos,
diz alguém com acerto, porque são versos de uma extrema simplicidade. Uma
simplicidade que se enraíza no ser humano e dele expressa as certezas e as
dúvidas que o poeta deseja compartilhar.
Em alguns poemas, um olhar atento
à vida: o Cristo que passa numa procissão de sexta-feira santa, um vulcão que
explode lava e deixa entre tantas
mortes, também a da menina Aymara Sánchez. Em outros, um sentir voltado para a
infância e a enredar-se em sabores tropicais – gianábana, coco, ajonjoli,
breva en manjar blanco - em gosto de vinho e de rum; em perfumes de jasmim,
cor e vento e música de água. Geografia interior que se desenha em lembranças
fraternas de jogos e ternuras; em pensamentos para a terra que deixou e leva
consigo, marinheiro do Caribe em calçada de cimento, Em imagens que
refazem silhuetas de árvores no horizonte, detalhes da casa familiar, a
presença do velho professor que ensina grego e odeia Franco.
E,
dominando, quase, os poemas de Duende de noche (Madrid, Pliegos, 1988),
o amor. Um amor cujo erotismo não se nega às palavras. Um amor que é chegada ( me arrastré hasta tu pecho, me
agarré a tus manos), que é vida, alegria, reencontro. Completando um itinerário em meio a essa
poesia que se interroga e interroga o mundo e cujas respostas, por vezes,
encontra no ser feminino ( eres mi única
esperanza; eres el diapasón / de mi sonido)
irrompe o poema comprometido que se enerva e que arranha o preconceito e o que ele justifica.
“
Made in Usa”, como outros poemas do livro é um momento da vida do Continente: a
viagem que faz o bruxo máximo da
Ku-Lux-Flan a terras por ele desconhecidas, acompanhado de cinco gorilas, grandes, peludos, loiros e fortes a consumirem grandes quantidades de chicletes
e pousando sorridentes para as câmaras
de televisão, lembrando aquele Batman que Lihn fez chegar ao Continente em Batman
no Chile.
Teobaldo
Noriega, colombiano, não ignora os milhares de homens que trabalham nas fábricas, esses
outros que morrem vítimas da violência da terra ou dos homens ou daqueles que
devem partir e encontrar outras pátrias. Daí as muitas angústias, os muitos
desalentos que embebem a sua poesia. Sabemos que ela é fruto do Continente.


