A
cidade de Vera Cruz nasceu com a chegada dos espanhóis na Península de Yucatán.
Atualmente, sua Universidade estende-lhe a presença por todo o Continente
através de publicações da área
humanística: Texto Crítico que
surgiu sob a direção do uruguaio Jorge Rufinelli e se constitui uma das mais importantes
revistas sobre Literatura Latino-americana e a Coleção “Ficción Universidad Veracruzana” já, há muitos
publicando, em excelentes edições, não somente autores mexicanos, mas, também,
aqueles de outros países da América.
Em
1964, o qüinquagésimo nono volume da coleção é de autoria de Elena Garro: La
semana de los colores. Um livro
de onze contos, ancorado num México que emerge, sobretudo, na consciência
mestiça, formada pelos valores ibéricos superpostos aos que já existiam antes
da chegada dos espanhóis no Continente.
Solidariedade,
traição, expressão de um mundo infantil, os temas universais se particularizam em La semana de los
colores num universo incapaz de fugir daquela dicotomia dramática
instaurada nos anos da conquista, verdadeira lei a separar os homens em
compartimentos estanques.
Em
quase todos os contos, mundos paralelos coexistem: o dos patrões e dos
empregados; o dos adultos e o das crianças; o dos ricos e o dos pobres; o dos
brancos e o dos índios.
No
conto “El árbol” se defrontam duas mulheres: Marta e Luiza. Marta, senhora vestida de negro, colar de pérolas rosadas,
solidão dourada numa casa em que as cortinas e os tapetes abafam os ruídos
externos. Marta que acreditava, como seus amigos e parentes, que os índios estavam mais perto dos animais do
que dos seres humanos. Diante de Luiza, a índia que lhe bate à porta, ao entardecer,
ferida, suja, medrosa, parece ter razão. E o tratamento que lhe dá é o que
poderia ser dado, também, a um animal: atender as suas necessidades básicas
e exigir o comportamento adequado.
Porém,
para Luiza, era preciso mais do que essa
eventual caridade. Desamparada, desorientada, procurou refúgio na casa de
Marta, branca e rica. Para ela contou
sobre o seu passado de misérias e sobre o crime que a levara à prisão;
para ela contou da felicidade sentida, nesses anos de reclusão, em que, pela
primeira vez, fora tratada como ser humano. Na cadeia, executara tarefas, se
banhara, se alimentara e dançara, o que jamais
havia feito até então: Eu nunca
tinha dançado antes, Martinha! A vida
do pobre não é baile, mas caminhadas sobres as pedras e fome. Também contou
para a branca que a solidão a levara a abraçar-se a uma árvore para
confidenciar seus pecados e suas
tristezas e que eles foram tantos e tão cruéis que a árvore tinha secado. E
teve medo.
No
desencontro entre as duas vozes, os destinos foram selados. Marta morreu
esfaqueada por Luiza. Luiza apenas
desejou reencontrar a prisão e nela os dias felizes que escapavam como água.
Quando procurou as antigas companheiras, ao entrar outra vez no cativeiro, não
as encontrou. Havia esquecido que, entre a liberdade que fora forçada a aceitar
ao término da pena e a prisão que acabava de buscar, se haviam passado vinte e
cinco anos.



