Foram
aproximadamente oito milhões e meio de crianças de terceiro a sexto ano de
escola primária que, no México, participaram de um concurso de redação,
instituído pela “Comissão para a defesa do idioma espanhol”. Selecionados,
primeiramente, pelos professores e, numa segunda fase, por um juri composto por
escritores, os textos foram reunidos sob o título Así escriben los niños de
México.
Embora as normas do
concurso indicassem que tanto o tema quanto a extensão do trabalho fossem
livres, percebe-se a submissão aos
velhos temas escolares: “O que eu gostaria de ser”, “Minha boneca”, “O
cachorrinho”, “O gato”, “Quando eu era pequeno”, “A primavera”. O que,
certamente, não irá impedir que, encerrados nesses temas, floresçam idéias e
expressões cuja espontaneidade e riqueza evidenciam o inestimável potencial que
existe em cada criança. Quando elas imaginam, são as fadas, as bruxas, os animais
falantes que aparecem e, a exemplo dos contos de fadas tradicionais, o final é
sempre moralizante – o mau desaparece ou é castigado – quem sabe, expressando o
velho desejo do Homem de viver num mundo onde reine a justiça.
Mais do que a
invenção, porém, o que prevalece nesses textos é a realidade a partir de
situações vividas. Sensações de prazer,
originadas do calor que esquenta o chão,
do cheiro de terra molhada que dá tanta alegria, da
visão do céu azul, bonito,estrelado. Ou, dos barulhos da casa, todo um
universo para quem tem nove anos: o
suave ressonar da irmã a dormir, o virar das folhas do jornal que o pai
lê, os risos familiares, o leve roçar
das agulhas de tricô, o bater dos
pratos na cozinha. Ou, ainda, emoções que chegam, com a alegria de encontrar e
poder levar para casa um animalzinho
perdido; com a tristeza, tão grande, de perder um bichinho de estimação às
quais, se misturam¸por vezes, reflexões sobre a maneira como devem sr tratados
os animais para que sejam felizes.
E, extremamente
sugestivo, o que se inscreve no tema “Eu gostaria”. Mais do que os outros, é um
tema que extrapola o desejo infantil para ser, também, reflexo de carências sociais: a falta de água que vai impedir o cultivo de
uma horta; a ausência de posses que não
permite a família conhecer o mar. Carência que está presente, também, no desejo
de poder estrear sapatos novos, de
oferecer à mãe, coisas que, pela pobreza, ela nunca teve.
Para alguns
poucos – quem sabe aqueles raros iluminados que talvez venham a salvar a
Humanidade – a aspiração consiste em ajudar os outros, no futuro. Ensinando,
cuidando de doentes, construindo casas para que todos possam morar bem.
E há os que
pensam num mundo vivendo em paz, numa sala de aula em que só existam crianças
estudiosas. E há aqueles para quem a felicidade está nas coisas singelas:
plantar melancia, comer chocolate, ver a andorinha tomar água na fonte, olhar
para as gotas de chuva, caindo no chão.
E, como diz
Gabriela Herrara Rodea, nove anos: Eu
gosto de tudo, menos das coisas ruins.
Gosto de dizer obrigada.


