Serafin J.García, poeta e narrador uruguaio da cidade de
Treinta e Três é, sobretudo, conhecido por Tacuruses.
Um livro de versos que teve sucessivas edições porque, além de muitas outras
qualidades, é expressão perfeita da voz do gaúcho que, sobrevivendo às
transformações sociais, submetido pelas
leis do trabalho, tenta, ainda, se manter livre.É’, também, autor de contos e
de relatos infantis, muitos dos quais
são livros textos nas escolas uruguaias. Um deles, Piquín y Chispita foi relacionado entre os dez melhores livros
infantis, publicados em 1967/68 com vistas ao prêmio internacional Hans
Christian Andersen de 1970.
Ao sair de sua toca
subterrânea, pela primeira vez, o tuco-tuco Piquín fica maravilhado com o radiante céu azul, o rio largo e de águas
prateadas, os ondulados campos verdes, o sol brilhante. Ele somente desprega os
olhos dessas belezas para ver Chispita, a lagartixa verde. Simpatia mútua,
palavras trocadas e juntos decidem ver o mundo. Suas
descobertas vão acontecendo. Cada capítulo do livro é uma aventura. O encontro
com João Sem Medo que, apesar do nome (ou, por causa dele), diante do perigo se
põe a tremer e quer fugir; ou com o boi Sem Pressa que os ajuda a atravessar o
riacho; o espetáculo feérico dos vagalumes dançando no céu....
Cada encontro,
um favor recebido, um favor prestado: Piquín abrindo um túnel para livrar os
peixes das presas do lobo que os havia aprisionado para se poupar o trabalho de
caçar; ou cavando galerias subterrâneas que, ao deixar o solo sem firmeza
assustaram a capivara cuja avidez
herbívora deixava sem alimento outros
pequenos animais.
E, assim, as
aventuras se sucedem. Encantadoras num mundo de planícies, de arroios
cantantes, de aromas silvestres e pontilhado de borboletas coloridas. Um mundo
em que a maldade, quando existe, é a expressão da luta pela sobrevivência.
Para que reine a harmonia, trabalham alguns e entre eles,
Piquín e Chispita.
Mais de vinte e
cinco anos se passaram desde a primeira edição dessa história. O mundo mudou e
na velocidade das mudanças muita coisa se perdeu. Outras chegaram: imagens de
mundos mecânicos e personagens robotizadas, movidas, em lugares estranhos, por
forças fantásticas e inumanas. Nos estereótipos, a luta entre o Bem e o Mal
contém significados a serviço de verdades que servem a uns em detrimento de
outros. Como se não houvesse mais espaço para bichinhos ingênuos e espaços
luminosos, é imposto, hoje, um outro mundo infantil que o despreparo dos países
do Terceiro Mudo aceita sem discutir, ignorando que valores se transmitem e que
somente eles podem evitar que o Continente continue a perder a sua identidade.
Ao
oferecer em Piquín y Chispita a
natureza em que o tom e as cores e os seres são nossos e com eles, cenas de
amizade de altruísmo, Serafín J. García não apenas encanta seus pequenos
leitores. Também faz pensar: já é tempo que o Continente conte para seus filhos
suas próprias histórias

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