Tardes são feitas para durar
pesco todos os dias
águas escuras
por enquanto.
Um
jovem poeta gaúcho assina esses versos. Renato Tapado, nascido em 1962,
estudante de Letras na Universidade Federal de Santa Catarina cuja Editora lhe
publicou os versos: Poemas para quem
caminha. Com esta obra e Grifos e Emblemas
de Hugo Mund Junior, ambas vencedoras do Prêmio
Luiz Delfino – 1987, a Editora da Universidade catarinense inicia a coleção
“Ípsis Literis”, destinada a divulgar a produção do Estado nas áreas de ficção,
poesia e teatro.
Poemas para quem caminha é um pequeno livro de cinqüenta e cinco
páginas . Os poemas, muitos deles de reduzidas dimensões ( dois, três, quatro
versos), misturados com outros maiores ( nunca mais de vinte e seis versos),
são como lampejos poéticos cujo início e fim não foram cristalizados pela
escrita tradicional com suas maiúsculas, com
sua pontuação, com seus títulos. Dois aspectos chamam, especialmente, a
atenção nos poemas de Renato Tapado. Uma lírica
despida daquele individualismo juvenil, tantas vezes, expressão primeira
dos primeiros anos, testemunha das tensões de seu tempo; e, raro na expressão poética brasileira, a presença
da América Latina.
A
inserção do poeta no tempo presente irá definir o caminho de quem se quer em
transformação ( amanheço / esqueço as
âncoras em balsas) e orientar o olhar que não se esquiva de uma realidade
que, também, precisa ser transformada ( no
cotidiano dos que estão morrendo
/ junto com as mentiras e os pássaros
inocentes).
Um
sentir que se estende além do espaço natal, ampliando uma geografia na qual se
inscreve o Continente. Presença feita de poemas , aliás os únicos que possuem
títulos ( Uruguai, Argentina, Honduras, Cuba); ou de referências esparsas em
versos ( queira ler quatro livros sobre a América / receber uma carta de Havana); em
expressões ( irmão da Nicarágua, chileno, Buenos Aires, ou casa tomada,
lembrança do nome de um dos mais conhecidos contos de Julio Cortazar); em uma
ou duas palavras em espanhol. Ou
presenças ainda mais efetiva, expressa nos versos de poetas latino-americanos
que aprecem em epígrafe ou na recriação que se sobrepõe aquela frase tão cara a
tantos latino-americanos: a morte é
cotidianamente / endurecer-se / porém sem ternura.
Poemas
para quem caminha são os primeiros passos de um poeta. Na rota que escolheu
encontra raízes e sonhos. E farpas. Do sofrimento que delas advém, também
versos.

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