Guiados
por editores que procuram refazer no Brasil
o sucesso conseguido em outros países de obras que muito pouco ou nada
tem a ver com a nossa realidade, a grande massa do leitor brasileiro tem se
alimentado de leituras de inquestionável mediocridade e que o tem mantido
incapaz de possuir parâmetros para reconhecer qualidades inclusive, também, em
outras manifestações artísticas como o teatro e o cinema, por exemplo.
Assim,
é de ótimo augúrio ter acontecido,
em curto espaço de tempo, como o testemunham as matérias
sobre o assunto, que apareceram em Leia e em Senhor, o que se poderia
chamar a descolonização espontânea do leitor brasileiro.
E,
nesse sentido, o livro O romance
hispano-americano da professora Bella Josef, em boa hora foi publicado. Ao afirmar que hoje se inscrevem na Argentina,
Brasil, México, Venezuela, Peru alguns dos romances mais importantes da Literatura
Universal está anunciando uma verdade conhecida já há muitos noutros países
mas, que, infelizmente, é ignorada pela maioria dos leitores brasileiros. Pois
não é segredo para ninguém que a informação sobre o que se passa na América
Latina e no resto do mundo, nós a recebemos através de agências noticiosas, em
sua grande parte, pertencentes aos países industrializados que, ou ignoram o
que aqui se passa no âmbito da cultura ou, o que é mais provável, não têm o
menor interesse nas sua divulgação. A
publicação de autores do Continente americano que se inicia ao sul do Rio
Grande não proporcionaria aos donos do poder, do saber e do possuir o lucro que
se origina da venda dos seus ( na grande
maioria) nefastos “best-sellers”.
Daí,
se constituiu algo de muito importante essa visão abrangente de vários autores
e obras que expressam diferentes épocas e diferentes espaços, proporcionada
pela obra da professora Bella Josef. Ao oferecer o panorama do romance
hispano-americano ou apresentar a sua evolução das origens até os dias de hoje,
fica, também, evidente que estamos diante de momentos ficcionais – o romance
políticos, histórico, “costumbrista”, sentimental, lírico, psicológico, preciosista-escapista, indianista, regionalista,
gauchesco, “ çriollista”- que se elaboram, desenhando contornos cada vez mais
nítidos do homem e do espaço latino-americano.
Dentre
os autores que analisa, são conhecidos
no Brasil (uns mais, outros menos) porque já traduzidos: Miguel Angel Astúrias,
Juan Rulfo, Gabriel Garçía Márquez, Mario Vargas Llosa, Julio Cortazar, Juan
Carlos Onetti, Alejo Carpentier, Manuel Scorza, José Donoso, Augusto Roa
Bastos, Manuel Puig, Carlos Droguett, Ernesto Sábato. Quase em igual número,
outros (apenas uma presença feminina, a mexicana Rosário Castellanos) aos quais
somente tem acesso um reduzido número de especialistas ou interessados na
cultura Hispano-americana.
Professora
de Literatura Hispano-americana na Universidade Federal do Rio de Janeiro,
conferencista e com vasta produção na Imprensa brasileira e do exterior, autora
de História da Literatura Hispano-americana (Vozes, 1971) e de O Jogo
mágico (José Olympio, 1980), ao publicar O romance Hispano-americano (Atica, 1986) Bella Josef não somente
enseja a leitura de um excelente texto crítico sobre obras latino-americanas
mas, oferece, também, aquele leitor já suficientemente amadurecido para
realizar suas próprias escolhas ( desde que estas lhe sejam, é evidente,
possibilitadas), um guia de leitura imprescindível para o conhecimento de um
universo que devemos reconhecer, de uma vez por todas, que é o nosso.
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