sexta-feira, 12 de dezembro de 1986

Sobre romances e romancistas

            Guiados por editores que procuram refazer no Brasil  o sucesso conseguido em outros países de obras que muito pouco ou nada tem a ver com a nossa realidade, a grande massa do leitor brasileiro tem se alimentado de leituras de inquestionável mediocridade e que o tem mantido incapaz de possuir parâmetros para reconhecer qualidades inclusive, também, em outras manifestações artísticas como o teatro e o cinema, por exemplo.

            Assim, é de ótimo  augúrio ter acontecido, em  curto espaço  de tempo, como o testemunham as matérias sobre o assunto,  que apareceram em Leia e em Senhor,  o que se poderia chamar a descolonização espontânea do leitor brasileiro.

            E, nesse sentido, o livro O romance hispano-americano da professora Bella Josef,  em boa hora foi publicado.  Ao afirmar que hoje se inscrevem na Argentina, Brasil, México, Venezuela, Peru alguns dos romances mais importantes da Literatura Universal está anunciando uma verdade conhecida já há muitos noutros países mas, que, infelizmente, é ignorada pela maioria dos leitores brasileiros. Pois não é segredo para ninguém que a informação sobre o que se passa na América Latina e no resto do mundo, nós a recebemos através de agências noticiosas, em sua grande parte, pertencentes aos países industrializados que, ou ignoram o que aqui se passa no âmbito da cultura ou, o que é mais provável, não têm o menor interesse nas sua  divulgação. A publicação de autores do Continente americano que se inicia ao sul do Rio Grande não proporcionaria aos donos do poder, do saber e do possuir o lucro que se origina da venda  dos seus ( na grande maioria) nefastos “best-sellers”.

            Daí, se constituiu algo de muito importante essa visão abrangente de vários autores e obras que expressam diferentes épocas e diferentes espaços, proporcionada pela obra da professora Bella Josef. Ao oferecer o panorama do romance hispano-americano ou apresentar a sua evolução das origens até os dias de hoje, fica, também, evidente que estamos diante de momentos ficcionais – o romance políticos, histórico, “costumbrista”, sentimental, lírico, psicológico,  preciosista-escapista, indianista, regionalista, gauchesco, “ çriollista”- que se elaboram, desenhando contornos cada vez mais nítidos do homem e do espaço latino-americano.

            Dentre os autores que analisa, são  conhecidos no Brasil (uns mais, outros menos) porque já traduzidos: Miguel Angel Astúrias, Juan Rulfo, Gabriel Garçía Márquez, Mario Vargas Llosa, Julio Cortazar, Juan Carlos Onetti, Alejo Carpentier, Manuel Scorza, José Donoso, Augusto Roa Bastos, Manuel Puig, Carlos Droguett, Ernesto Sábato. Quase em igual número, outros (apenas uma presença feminina, a mexicana Rosário Castellanos) aos quais somente tem acesso um reduzido número de especialistas ou interessados na cultura Hispano-americana.

            Professora de Literatura Hispano-americana na Universidade Federal do Rio de Janeiro, conferencista e com vasta produção na Imprensa brasileira e do exterior, autora de História da Literatura Hispano-americana (Vozes, 1971) e de O Jogo mágico (José Olympio, 1980), ao publicar O romance Hispano-americano (Atica, 1986) Bella Josef não somente enseja a leitura de um excelente texto crítico sobre obras latino-americanas mas, oferece, também, aquele leitor já suficientemente amadurecido para realizar suas próprias escolhas ( desde que estas lhe sejam, é evidente, possibilitadas), um guia de leitura imprescindível para o conhecimento de um universo que devemos reconhecer, de uma vez por todas, que é o nosso.

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