É
a história de um operário bêbado que, abandonado pela mulher, passou a dizer que o santo da igreja
conversava com ele. Uma história real
contada por um médico a Carlos Droguett que a transformou em romance: El
Compadre, publicado pela Joaquín Mortiz do México, em 1967. Nele, o
operário, um carpinteiro, se chama Ramón Neira. Numa fria manhã, é encontrado
pela mãe que o procurava, dormindo na igreja, perto da imagem de São Judas
Tadeu. Um tempo antes, apaixonado, se casara com Yolanda e fora feliz. Ao
sentir que ela começa a se afastar,
prende-se, cada vez, mais à bebida.
Entre o prazer de beber e o andaime, deixa o tempo passar. Seu filho cresce e
somente quando já tem oito anos é que Ramón Neira cede aos pedidos de sua mãe e
decide batizá-lo. Em honra de Pedro Aguirre, ex-presidente do Chile, lhe dará o
nome de Pedro.
Pedro
Aguirre, negando o governo de seu antecessor quis voltar-se para os
desprivilegiados do país. Morreu antes de cumprir as promessas feitas e para
Ramón Neira sua morte foi o esvair-se de todas as esperanças: se ele não tivesse morrido, teria mudado o
mundo. E o “velhinho negro” como era, carinhosamente, chamado pelos chilenos, será a partir de
então, habitante de suas fantasias e de seus pesadelos, fazendo dele, pela
segunda vez, um órfão. Seu pai, bêbado, morrera de um balaço; Pedro Aguirre,
preconizando mudanças, morrera para que os pobres continuassem na terra porque são eles que devem gastar o sofrimento que
existe no mundo. Os doutores o
mataram, diz a mãe para Ramón Neira. Ingenuamente, ele pensa nas injeções que os doutores lhe aplicaram para provocar a
morte. Pobre, como os outros pobres, acreditava que o presidente era bom,
acreditava nas coisas importantes que ele havia jurado fazer. E, também, que a
felicidade – a visão de Yolanda, tão bonita, quando a viu pela primeira vez no
dia do enterro de Pedro Aguirre – era um presente do “velhinho negro”.
Ramón
Neira trabalha em cima do andaime, ao sol e ao vento, bebe para enfrentar os
seus dias. Lúcido, ele sabe que é um cidadão sem direitos e sóbrio ou bêbado,
ele precisa ter esperanças. Perto dele, a voz discordante da mãe, pequena,
enrugada, sofrida. Para ela já não são as ilusões. Nem as da terra, nem as do
céu. O “velhinho negro” morreu de pura maldade, diz. Os ricos vão diretamente
para o céu e lá são recebidos com todas as honras.
Porém
o carpinteiro é um homem do Continente. Sem crenças o que será dele? E acredita
no que lhe é dado perceber. O que não é muito. Diz para a sua mãe: - Era um homem bom, velha. Ela ficou
olhando para ele com a cabeça levantada porque ele era muito mais alto ela o enxergava mais alto; agora., que estava
triste, parecia que tinha crescido. – Era um homem rico, filho!.

