domingo, 3 de setembro de 1989

Já foi dito e legislado



            O sol e o pampeiro lhe tingiram a pele. Falava baixo e pausado e tinha os olhos azuis. José Artigas, um dos libertadores da América.

            Capitán luminoso, jinete del escalofrio, caudillo del rumbo, centauro de la polvoreda o chamou Pablo Neruda no seu Canto general. Nos pampas do Uruguai, conforme testemunho do inglês Robertson, sentado numa caveira de boi, perto do fogo, vai ditando as cartas a seus dois secretários. Pelo chão, espalhadas, as muitas que lhe chegavam da província inteira.

            Pobremente vestido com um velho poncho, ao mesmo tempo, ele bebia genebra, fumava, conversava e despachava todos os assuntos que lhe caíam nas mãos.

            E foi em setembro de 1815 que José Artigas decretou os regulamentos que dispunham sobre as terras, sobre os direitos alfandegários e sobre o comércio de seu país. Que as terras fossem repartidas entre os que, laboriosos, não as possuíam; que os livros não pagassem impostos de importação; que o comércio e a indústria estivessem nas mãos dos uruguaios.

            Claras e límpidas resoluções que assegurariam, no seu entender, o trabalho e o desenvolvimento voltados para um grande mercado comum regional. No sistema que engendrou, a nação seria formada pelos que nela nascessem.

            Por isso, os forâneos de outros hemisférios logo lhe fizeram cerco e José Artigas, el capitán luminoso, terminou seus dias, solitário, num exílio que durou  trinta anos.

           

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