Na
Amazônia, escreveu seus dois primeiros livros de ensaio: Heróis da
decadência em que reflete sobre o
humor de Petrônio, Cervantes e Machado de Assis e o Ciclo do ouro negro
em que interpreta a realidade da Amazônia.
Quando,
em 1934, a anistia, concedida pelo Congresso lhe permite voltar para Porto
Alegre, passou a dirigir a Folha da Tarde e de seus textos satíricos
sobre a situação político- social do país resultou o livro
Novas cartas persas. Das obras que se seguiram, destacam-se Tóia,
romance cuja ação se passa no México onde Viana Moog viveu mais de dez
anos,como presidente da Comissão de Ação Cultura da OEA , Bandeirantes e
Pioneiros ( traduzido para o inglês e para o francês) e Um rio imita o
Reno.
O fato de ter escrito um excelente ensaio, Eça
de Queirós e o século XIX, induziu, talvez, a alguns críticos o
considerarem um discípulo do romancista português. No dizer de Antonio Carlos
Villaça, o autor gaúcho torna a fazer do romance uma narrativa a partir da observação da realidade objetivamente vista. Na verdade, não há
dúvida que, ao se deter na realidade exterior em Um rio imita o Reno,
Viana Moog pouco inventa ao descrever a pequena cidade de Blumental, seus
habitantes e a natureza que a circunda. Rotulado de “romance social”, trata-se
de uma obra que poderia, também, ser chamada de “romance de idéias”. Porque a
história de amor entre o amazonense Geraldo Torres e Lore Wolff, descendente de
alemães parece apenas ser motivo para falar de um Brasil onde os imigrantes
vieram em busca do futuro e mostrar alguns momentos de sua aculturação.
Um
rio imita o Reno é construído em quatro partes, cujos títulos são as
estações do ano. Inicia-se no verão, quando chega à cidade para construir a
hidráulica, o engenheiro de pele bronzeada. Da janela do hotel, ele olha a
cidade: Blumental dava-lhe a impressão de
uma cidade do Reno extraviada em terra americana. Desde o gótico da igreja, até
a dura austeridade das fachadas, tudo nela, à exceção do jardim era grave,
rígido, tedesco.
Mal
chega, o engenheiro caboclo, como o chama um outro personagem, sente-se atraído
pela moça loira: bugre enamorada da deusa
branca. A emoção que, por sua vez, provoca em Lore nada significa
diante dos preconceitos da família. Para
eles, Geraldo Torres faz parte dos outros, os de raça inferior como diz Frau
Marta, a mãe; os que, fracos, morrem à
primeira gripe, como afirma Karl, o irmão.
Embora
a tensão do romance esteja nesse
preconceito racial, o que acaba ficando em primeiro plano são as idéias que
fluem das discussões, das opiniões, dos monólogos que expressam o significado do Brasil para os brasileiros,
tanto para os descendentes de europeus
que ainda sentem o Velho Continente e procuram viver como se ali
estivessem, como para os que usam sobrenomes portugueses. Tanto no que se
refere à aparência física, como no que se refere à visão de mundo, eles são o
reverso da moeda.
Os
extremos podem significar uma convivência pacifica entre loiros, morenos, caboclos, mulatos, cafusos, negros, alemães, polacos,
teuto-brasileiros, luso-brasileiros ou um repúdio baseado na cor da pele.
Ou, ainda, um desejo de riqueza e
progresso, materializado na instalação de indústrias que se opõe ao trabalho
artesanal – confecção de redes de tucum ou de objetos de cerâmica – oferecido
aos visitantes porque um eventual lucro, originado da venda desses objetos, não
faz falta.
No outono, se instala a crise que irá afastar o
engenheiro; no inverno, a sua partida. Assim como a politicagem não deixará que
a hidráulica seja concluída, assim os preconceitos irão impedir a união dos
namorados.
Acreditando
na unidade nacional, Viana Moog faz com que um raio de sol penetre no velho
casarão dos Wollf e, na primavera, após a chuva, a velha frau Marta não mais se
oponha às brincadeiras do neto loiro com os moleques da rua.
Quando,
em 1930, Um rio imita o Reno foi publicado, Viana Moog dizia, pela boca
de Geraldo Torres, que os pardais chegam em bando e impedem o canto dos outros
pássaros; que eles grasnam em coro para que não os humilhe a voz dos pássaros
de canto. Passados cinqüenta anos, as vozes dos preconceitos e do racismo não
se calaram. Resulta daí, certamente, a oportunidade desse romance e de sua
reedição pela José Olympio, em 1987.
Morto
recentemente, Viana Moog certamente não ignorou que os pardais estão voltando.
